ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O cinema e a história na obra de Luchino Visconti |
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Autor | Carolina Guimarães Ribeiro |
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Resumo Expandido | O presente trabalho visa investigar de que modo Senso e O Leopardo utilizam referências históricas como parte de suas estratégias narrativas, visuais e sonoras. Desso modo, procuramos investigar não somente a interpretação dos filmes sobre determinado momento histórico, mas de que modo Visconti usa a História como sustentáculo dos seus filmes. A principal hipótese sustentada pela pesquisa é que os acontecimentos históricos não apenas emolduram a fábula, mas são parte fundamental da própria estrutura dramática dos filmes, de modo que a trajetória individual de seus personagens centrais confunde-se com o destino da classe que representam.
Como horizonte teórico, as ideias de Marc Ferro, publicadas a partir da década de 1970, mostraram-se ainda relevantes, proporcionando uma base sólida de estudos, mesmo que tenham não tenham sido originalmente desenvolvidas pelo viés da Comunicação. Ferro foi um dos pioneiros no estudo do cinema relacionado à História e a importância de seu trabalho é comprovada pelo fato de que este ainda é citado e considerado nas pesquisas mais recentes da área. Entretando, também foi necessário buscar teorias exclusivas da análise fílmica que permitissem decompor e interpretar os filmes do corpus da maneira mais minuciosa possível. Para tanto, foram utilizados conceitos de David Bordwell e Michel Chion. Ao mesmo tempo, também mostrou-se indispensável aprofundar o conhecimento sobre a poética de Visconti, trazendo informações sobre seus demais filmes. Isso porque Senso e O Leopardo fazem parte de uma filmografia que, embora diversa, apresenta fortes traços comuns, próprios das temáticas e estilo que o realizador construiu ao longo de sua carreira. Além disso, uma análise do contexto de produção se revelou importante tanto para esclarecer o que os filmes representaram na sua época de lançamento quanto para compreender sua relevância nos dias de hoje. Nesse movimento, o trabalho de David Bordwell e Kirstin Thompson sobre a história do cinema foi fundamental, bem como os textos da pesquisadora francesa Michèle Lagny, que permitiram a coleta de informações sobre a biografia do diretor, as críticas recebidas na época e testemunhos de colaboradores, compondo um painel enriquecedor para a melhor compreensão das obras aqui escolhidas. Os filmes analisados foram considerados como passíveis de uma leitura alegórica. Através de sua apreciação é possível interpretar os acontecimentos narrados como representativos das mudanças ocorridas com toda uma classe social. A leitura alegórica permite considerar Senso e O Leopardo como uma grande narrativa da decadência da aristocracia italiana, na qual os protagonistas são utilizados como expoentes de suas classes. Nesses filmes, embora as histórias particulares dos personagens sejam fundamentais para criar o interesse no espectador, elas são parte de um quadro muito maior, no qual cada ação “pessoal” é também uma ação política e onde as motivações dos personagens estão intimamente relacionadas com os problemas enfrentados por sua classe naquele dado momento histórico. Ao mesmo tempo, também foi possível perceber nos filmes a coexistência, aparentemente contraditória, de um olhar essencialmente aristocrático – pois são obras que muito claramente exploram a dor dos personagens com o fim de seu “velho mundo” – com uma dura crítica social. Acreditamos que essa contradição enriquece os filmes, oferecendo mais camadas de significados – e, possivelmente, poderia ser explorada em outros trabalhos. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Narration in the Fiction Film. Madison: University of Wisconsin, 1985.
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