ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Narrativas Transmediáticas :O Lugar do Cinema |
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Autor | Francisco Merino |
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Resumo Expandido | Num cenário dominado pelos meios digitais e pela convergência entre meios, torna-se especialmente relevante analisar a inserção do cinema em sistemas narrativos hipertextuais, em particular nas narrativas transmediáticas. Ao contrário dos formatos híbridos que combinam o cinema e os dispositivos digitais, que assentam na remediação, conversão e reconfiguração da própria ideia de cinema, as narrativas transmediáticas convivem bem com a especificidade do cinema, reforçando e enfatizando as suas propriedades. Têm precisamente como premissa que cada meio possui um modelo discursivo próprio e adequado para difundir um determinado fragmento da história, assim enriquecendo a experiência do utilizador e a própria narrativa.
A análise do cinema em ambientes transmediáticos sugere duas perspectivas distintas. A primeira assenta na especificidade do cinema, bem como no seu contributo para um modelo narrativo transmediático, e a segunda naquilo que o cinema consegue extrair com a sua inserção em sistemas narrativas com modelos discursivos distintos. Os produtos emanados dos novos meios, e que frequentemente acompanham o cinema nas narrativas transmediáticos, têm subjacente um modelo discursivo que contraria a e desafia a linearidade, permitindo que seja o utilizador ou a sua performance a ordenar a acção dramática. O mesmo parece ser válido para narrativas hipertextuais e, consequentemente, para sistemas narrativos transmediáticos. O principal contributo do cinema parece ser conferir à narrativa transmediática um semblante de linearidade discursiva. Em Matrix, Twin Peaks ou Blair Witch, embora o cinema assuma papéis diferentes na estrutura da cada uma destas narrativas, reclama para si um lugar cimeiro na hierarquia dos textos que a habitam, funcionando com um bloco estruturante ou tomando a forma de clímax, operando o desfecho de arcos narrativos originários de outras composições. A estabilidade do cinema, por oposição à irrequietude dos novos meios e até da televisão, é atestada pela importância que este possui em Star Wars, onde funciona como a instância fundadora do cânone da narrativa. O cinema extrai também vantagens com a sua inserção em narrativas transmediáticas, adquirindo propriedades que estavam secundarizadas ou até ausentes. Devido ao seu próprio modelo de produção, o cinema tenda a encarar cada filme como uma obra singular. Mesmo no caso das sequelas, só raramente a coerência narrativa vai além das propriedades da personagem ou das características mais elementares da diegese. No caso de Matrix, por exemplo, em que os filmes habitam num ecossistema mediático mais vasto, há composições como o videojogo e as curtas-metragens de animação que garantem a unidade da acção dramática entre os filmes que constituem a trilogia cinematográfica. A tendência para a proliferação de sistemas narrativos complexos, a que não é alheia a influência das séries de televisivas de arco narrativo persistente, esbarra com convenções relativas à duração habitual dos filmes e com o próprio sistema de produção. A economia narrativa de um filme leva-o a restringir ou a limitar a proliferação de arcos narrativos. Esta limitação, particularmente evidente em adaptações literárias ou em fábulas que decorrem em mundos imaginários, revela a incapacidade do cinema, e em alguns casos da própria televisão, para incluir determinadas narrativas secundárias ou mesmo algumas características cronotópicas do universo diegético. O fenómeno transmediático permite contornar esta limitação, inserindo o cinema numa narrativa com modelos discursivos e propriedades diferentes. A inclusão do cinema em ambientes transmediáticos permite valorizar e colocar em evidência a sua própria especificidade, na medida em que o discurso transmediático pretende realçar e aproveitar as propriedades intrínsecas a cada meio. Por outro lado, o fenómeno transmediático permite ao cinema integrar elementos da fábula que resistem ou são avessos à narrativa cinematográfica. |
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Bibliografia | Aaserth, E. (1997). Cybertext: Perspectives on Ergodic Literature. Baltimore: Johns Hopkins University.
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