ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Pervertendo o galã : Tarcísio Meira na TV e no cinema |
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Autor | Pedro Maciel Guimaraes Junior |
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Resumo Expandido | Um dos primeiros atores reconhecidos por seu trabalho na televisão brasileira, Tarcísio Meira percorreu os anos 60, 70 e inicio dos 80 vivendo papeis de galã romântico, homem sedutor ou de herói de guerra. Sendo contratado da TV Globo desde 1965, ele participa da primeira telenovela brasileira, 2-5499 Ocupado. Depois, interpreta uma serie de papeis em folhetins de época, que denotavam a fascinação da televisão brasileiros pelos melodramas latino-americanos.
A primeira frente de discussão tendo por base a obra cinematográfica e televisiva de Tarcísio Meira está na formação do seu perfil de estrela. Edgar Morin estabeleceu critérios para se considerar um ator como uma star, no seu ensaio de 1957. No entanto, Morin não tece nenhuma consideração sobre o papel da televisão como formador de estrelas, assim como Richard Dyer. Os poucos estudos brasileiros como os de Sergio Augusto, Paulo Paranaguá e João Luiz Vieira tampouco abordam a problemática da TV na construção de astros. Será preciso então importar os conceitos de Morin e Dyer e tentar aplicá-los para a realidade brasileira onde é a televisão e não mais o cinema, pelo menos tradicionalmente, o meio mais eficiente de construção de um star system nacional. Resolvida essa questão de saber se Meira é ou não uma estrela, pretendemos abordar a perversão que o cinema e a TV fazem da sua persona que pode ser resumida em torno do estereótipo do “galã”. A imagem de correção e sedução estabelecida pelas novelas dos anos 60 e 70 teve seu ápice com Irmãos Coragem (1970), quando Meira viveu João Coragem na novela de Janete Clair. O personagem trazia a imagem do ator para uma realidade brasileira, algo que seus papeis anteriores não tinham, e foi decisivo também no estabelecimento da parceria entre Tarcisio e Glória Menezes como casal modelo da televisão brasileira. Tarcisio tornou-se assim um herói com cara brasileira, no momento em que as ficções televisivas do país começavam a se alimentar de ares neorrealistas e cinemanovistas (Beto Rockfeller, outra revolução do horário, foi também de 1970; a trama de Janete Clair aborda alguns temas discutidos em Deus e diabo na terra do sol, de Glauber, 1964). A novela, que durou mais de um ano, entronizou a imagem do ator, calcada no “bom-mocismo”, na correção ética, no humanismo e na fidelidade à parceira (sintomaticamente, Joao Coragem era dividido entre duas personagens, ambas interpretadas por Glória). Bastou o final dos anos 70 e a aparição mais sistemática de Tarcísio no cinema para que essa fama de galã começasse a ser contestada ou abertamente destruída. O contraemprego da persona de um ator é um procedimento de criação e interpretação de personagens que se tornou comum na televisão brasileira, proveniente obviamente do cinema. Mas, para se ter a persona contraempregada pelo cinema, era preciso que esse ator tivesse essa “máscara pública” construída por discursos paralelos e internos às obras audiovisuais, no caso, as novelas de televisão. No cinema, Tarcísio passou a ser chamado para viver papeis norteados por uma ambiguidade (O Beijo no asfalto, Barreto, 1981) ou excessividade sexual (Eu, Khouri, 1987), assim como antiherois (Boca de Ouro, Avancini, 1990) ou, mais abertamente, papeis de bandidos (República dos Assassinos, Faria Jr, 1979). Da mesma maneira, a televisão mimetiza esse procedimento do cinema dando a Tarcísio papéis de vilões em novelas como Roda de Fogo (o primeiro vilão-galã do horário nobre, reiterado em Pátria Minha, 1994) e séries como Grande Sertao Veredas (1985). A televisão revela também o lado cômico de Tarcísio em papéis que são o contraemprego da sua persona seria, autocentrada, fala pausada (Guerra dos sexos, 1983 e Araponga, 1990). Apesar desse contraemprego, Tarcisio Meira pode ser considerado um ator-autor pelo fato de repetir o seu programa gestual de um personagem ao outro, independente do perfil psicológico do personagem, do tom do filme e das orientações de mise en scène do diretor. |
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Bibliografia | AUGUSTO Sérgio, Divagação sobre estrelas – um estudo do divismo no Brasil, Filme Cultura, n° 16, set/out. 1970.
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