ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Animação digital e efeitos visuais – discursos em transição |
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Autor | Roberto Tietzmann |
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Resumo Expandido | O discurso dominante de verossimilhança em efeitos visuais é aquele que busca a semelhança com as imagens captadas com câmeras e prossegue em direção à complementação e eventual substituição delas por outras produzidas com técnicas e tecnologias diversas. Dentro deste discurso, portanto, reside um caráter duplo: ao mesmo tempo busca afastar-se das limitações da aparência da materialidade de personagens, ações, objetos e espaços registrada pela câmera e também tirar proveito dos potenciais destas novas imagens atendendo às demandas da narrativa preservando as convenções de mímese tradicionais na dramaturgia ocidental .
Este discurso se manifesta em um movimento constante desde os tempos de Méliès onde o uso de efeitos visuais em filmes com caráter narrativo buscam reduzir as emendas perceptíveis entre as imagens oriundas da câmera e as produzidas com as demais técnicas e tecnologias em um repertório elencado historicamente por Rickitt (2000) e Pinteau (2004) entre outros. Um ponto de inflexão importante neste movimento acontece em a partir da metade da década de 1980 quando personagens realizados através de animação digital passam a agir sobre as imagens de câmera cujo contato até então era restrito. Filmes como "O Enigma da Pirâmide" (Barry Levinson, 1985) e "O Segredo do Abismo" (James Cameron, 1989) apresentam personagens animados digitalmente de maneira verossímel com ações e reações sobre os espaços e demais personagens cuja explicação da existência não poderia residir apenas em "alguém ou algo que foi filmado" o que deixou um vácuo conceitual em aberto. Assim, o tênue contrato de verossimilhança das imagens na tela entre espectador e filme entrou em crise. Embora a indústria audiovisual tenha também a tradição de produzir obras e divulgação a partir dos bastidores, revelando fetichisticamente seus processos e ritos, a renovada incerteza por parte dos espectadores a respeito do que viam tensionou o discurso de verossimilhança dos efeitos visuais sugerindo categorias que o matizam, assunto desta comunicação. Propomos como um trajeto de exploração quatro categorias. A primeira é o reforço do discurso dominante com o investimento crescente na espetacularização das cenas baseadas em efeitos, buscando lastrear aí um poder de atração dos espectadores e, frequentemente, afastando-se da verossimilhança das imagens. Esta primeira categoria pode ser verificada em praticamente todos os grandes filmes dos gêneros de ação e aventura. A segunda aponta para a incorporação dos efeitos visuais em cenas onde estão naturalizados na extensão e edição de espaços e elementos presentes na imagem, motivado por razões de custo-benefício de produção, sendo observado em histórias que se aproximam dos gêneros drama ou comédia. Uma terceira tendência incorpora as emendas da imagem e os contrastes entre as técnicas como afirmação de distinção, revelando a sobreposição que as categorias anteriores provocam entre narrativas e efeitos, destacando-se em filmes como "Rebobine Por Favor" (Michel Gondry, 2008). Por fim, pontuamos a recriação de explicações para a origem das imagens, feita de maneira tão fantasiosa quanto didática que busca reestabelecer a diferença entre as imagens "com" e "sem" efeitos visuais ainda que utilizando os recursos de imagem contemporâneos. Exemplificamos esta última categoria com o filme "O Segredo de Hugo Cabret" (Martin Scorsese, 2011). De maneira transversal a todas as categorias está presente o diálogo entre animação digital e efeitos visuais, linha de expansão tecnológica do cinema contemporâneo. |
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Bibliografia | BORDWELL, David; STAIGER, Janet; THOMPSON, Kristin. The Classical Hollywood Cinema: Film Style & Mode of Production to 1960. London : Routledge, 1988.
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