ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O Cinema de Cozinha de Cao Guimarães |
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Autor | Cássia Takahashi Hosni |
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Resumo Expandido | A presente comunicação visa apresentar o termo Cinema de Cozinha, criado pelo artista visual e cineasta Cao Guimarães. Em sua trajetória cunhou alguns conceitos próprios para descrever sua produção audiovisual. Surgido na década de 1990, a partir da vivência em Londres, o Cinema de Cozinha descreve sua produção independente, em que trabalha como diretor, fotógrafo e editor de seus filmes.
Guimarães diz que era na cozinha em que realizava a telecinagem e montagem dos filmes gravados em Super-8 e 16 mm. O lugar ficou sendo um espaço para experimentar, tal como na gastronomia, e que de forma distinta aos padrões dos laboratórios industriais, podia permitir-se ao erro e ao acaso, trabalhando nos filmes de forma a incorporar eventuais falhas. Era também na cozinha que o artista realizava as primeiras exibições para os amigos, projetando e examinando o exercício da montagem. A essa fase londrina, Guimarães produziu os curtas-metragens The Eye Land e Between – Inventário de Pequenas Mortes, gravados primeiramente em Super-8 e finalizados em vídeo digital, respectivamente em 1999 e 2000. Os dois curtas iniciais são fundamentais para a construção do olhar do artista, figurando posteriormente com elementos formais na constituição dos longas-metragens de Guimarães. Ao longo de sua produção, permeada de observações de micro-fenômenos cotidianos, vemos que tanto em The Eye Land como em Between estão presentes a situação de estrangeiro, em que passava o dia a observar “uma luz que cruzava os azulejos do apartamento de manhã até de tarde. Uma semente que cruzava o apartamento e caía no vaso, na privada”, como dito em depoimento à fundação Vera Barcellos, em referência ao curta Between. Em The Eye Land, as imagens são de um flaneur, alguém que passeia, vagueia pelas cidades, mas em um local que não lhe pertence. São apresentadas imagens de janelas, árvores, fotografias 3x4 e reflexos, constituindo fragmentos de uma visão pessoal do mundo que o cerca. O título remete ao trocadilho que Guimarães faz com a palavra island, em referências a cidade de Londres, responsável pelas percepções e registros, como as diferentes tonalidades de luzes que perpassam pela janela. Já em Between – Inventário de Pequenas Mortes são imagens de árvores, gotas que transparecem a cidade, cortinas que esvoaçam com o ritmo sonoro da respiração. Neste curta, estão presentes fenômenos naturais como a água e o fogo em diferentes estados de materialidade. O lirismo das imagens remete à alguns curtas-documentais, como Chuva, de Joris Ivens ou mesmo H2O, de Ralph Steiner, ressaltando um estado contemplativo dos fenômenos como a chuva ou as corredeiras do rio. Cao diz que os vários tipos de realidade do cotidiano são possíveis de transformar-se em filmes. Vemos que a influência dos curtas iniciais está presente em documentários como A Alma do Osso, em cenas, como por exemplo, em que uma câmera aquática capta a movimentação dos peixes, ou mesmo no recente Elvira Lorelay Alma de Dragón, em que, assim como em outros longas, a movimentação das folhagens pelo vento é captada em diferentes fases e intensidades. Em sua trajetória, pessoas, formigas, bolhas de sabão são potencialmente expressivos e ganham outra dimensão quando registrados e finalizados no formato de curta-metragem. Para Guimarães “a cozinha é na casa o lugar do outro” e é no outro que se dará a digestão da poética, oferecida do artista para o espectador. |
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Bibliografia | GUIMARÃES, Cao. Cinema de Cozinha. Disponível em: http://www.caoguimaraes.com/page2/artigos/artigo_22.pdf. Acesso em 01 fev. 2013.
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