ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O SUBJETIVO E O PUBLICO NO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO E ARGENTINO CONTEMPORÂNEO |
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Autor | Maria Dora Genis Mourão |
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Coautor | Ana Amado |
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Resumo Expandido | Esta proposta de comunicação faz parte de uma reflexão desenvolvida em conjunto com a Profa. Dra. Ana Maria Amado da Facultad de Filosofia y Letras/ Universidad de Buenos Aires.
Para estabelecer um necessário recorte de temas e procedimentos, delimitamos alguns eixos que não pretendem canonizar obras nem autores, mas sim fazer um panorama de filmes cujo conjunto permite desenhar, em princípio, um mapa de questões marcadas pelo encontro (ou desencontro) entre o subjetivo e o publico. Precisamente no cruzamento entre vidas privadas e públicas, nas subjetividades que se esboçam na relação com o mundo, estende-se uma ponte entre passado e presente numa tentativa da memória organizar o caos da Historia dentro dos limites de uma biografia ou de uma autobiografia documental. As questões que nos norteiam se referem também aos dispositivos formais utilizados nos documentários escolhidos como referencias. Como se utilizam as imagens, os sons, as fotos, os documentos, os testemunhos orais e os escritos para pensar as zonas mais candentes do passado quando se evoca a História em tempo presente? Como devem ser utilizados os materiais audiovisuais e escritos para trazer para o presente o que seria uma verdade histórica? A tendência tradicional é estruturar o filme documental como ferramenta demonstrativa e reflexiva sobre esta ou aquela passagem da história entendida como “acontecimento” (acreditamos que o termo “acontecimento” leva a definições e interpretações as mais variadas, mas preferimos utilizá-lo em seu sentido mais imediato, aplicado aos feitos que fazem emergir processos muitas vezes imprevisíveis, de forte impacto coletivo e capazes, por isso, de produzir uma mudança nas subjetividades). Nesse sentido, a montagem, os documentos de arquivo e uma forte marca da figura autoral, aparecem rapidamente como ferramentas que definem a estrutura formal quando se trata de História coletiva. Sobretudo a História na sua chave institucional e política. No Brasil os documentários de Silvio Tendler, notadamente os dos anos 80 por exemplo, revisitam o período pré-ditadura através do retrato de seus líderes: Os Anos JK – uma trajetória política (Brasil, 1980) e Jango (Brasil, 1984). Na Argentina o documentário foi o formato utilizado de forma crescente a partir, principalmente, da década de 90, para examinar acontecimentos do passado histórico e do presente social, até transformar-se em um dos principais gêneros cinematográficos. Boa parte do cinema argentino atual utiliza o documentário com diferentes e complexas poéticas expressivas para construir cenas da memória individual e coletiva, além de testemunhar sobre as consequências dos crimes da ditadura genocida ocorrida entre 1976 e 1983. Nos documentários argentinos sobre as organizações revolucionárias produzidos nos anos 90 há uma hegemonia dos testemunhos. Citamos como exemplo Montoneros, una historia (Argentina, 1994), de Andrés Di Tella e Cazadores de utopías (Argentina,1995), de David Blaustein. Desde o início dos anos 2000 destaca-se uma significativa produção documental cujos autores são os filhos das vítimas dos anos 70: Papá Iván ( Argentina-México, 2000), de María Inés Roqué e Los Rubios (Argentina, 2003) de Albertina Carri são exemplos desse período. No Brasil essa linha é mais recente. Mesmo havendo alguns filmes de ficção que tratam do período da ditadura, é nos anos 2000 que se concentra um grupo de produções documentais cujo tema é o período militar. Como exemplo temos: Cidadão Boilesen (Brasil, 2005) de Chaim Litewski , Hércules 56 (Brasil, 2006) de Silvio Da Rin, Caparaó (Brasil, 2007) de Flávio Frederico e Operação Condor (Brasil, 2007) de Roberto Mader. Se no contexto do chamado Novo Cinema Latinoamericano dos anos 60 e 70 o que marcava a dramaturgia dos documentários era a sintese, a capacidade de um persongem representar um grupo, uma classe, uma época, hoje importa mais pensar em personagens singulares que interrogam o mundo de maneira particular. |
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Bibliografia | Cineastas e Imagens do Povo. Jean Claude Bernardet, São Paulo, Companhia das Letras, 2003
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