ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Modulações da política: territórios e processos subjetivos |
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Autor | Cezar Migliorin |
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Resumo Expandido | A comunicação está focada no gesto do documentarista contemporâneo e os modos de fazer coexistir duas dimensões inalienáveis da política, aquelas ligadas às micropolíticas, que atentam para as organizações estéticas e modulações subjetivas operadas por sujeitos e múltiplos poderes em uma dimensão propriamente biopolítica e a política enquanto disputa de território institucional em que operam noções como identidade, pertencimento, gêneros e classe.
É com os filmes que percebemos o trânsito entre essas dimensões, entretanto, não é apenas na análise das imagens que o cinema opera entre esses gestos políticos. O cinema feito no Xingu, com filmes como As Hipermulheres, de Leonardo Sette, Carlos Fausto e Takumã Kuikuro (Brasil, 2011) é exemplar desse trânsito. Ao mesmo tempo em que ao reler a tradição o filme é revelador das potências estéticas da comunidade e do que se inventa com o cinema, o deslocamento do cinema para além da comunidade é fundamental para as formas de legitimar uma “cultura” – entre aspas, reflexiva, como coloca Manuela Carneiro da Cunha - e para a força que os próprios cineastas passam a ter na comunidade e fora dela. (Fausto, 2011) Tal atenção nos demanda um esforço metodológico no trabalho com o cinema, uma vez que interrogamos os filmes entre os modos de tradução e produção de um comum, atentando para a conexão inextricável entre política e estética, ao mesmo tempo em que nos interessam os gestos que apontam para um engajamento em uma política molar, expresso nos filmes. Na presente comunicação trabalharemos com o filme Doméstica (2012), de Gabriel Mascaro, investigando as formas do filme se fazer junto aos modos de vida de jovens e empregadas domésticas em diversos lugares do país e, ao mesmo tempo, explicitar um engajamento com questões de classe, de exploração, de organização de trabalho. No caso, trata-se justamente de um trabalho doméstico em que questões afetivas estão fortemente conectadas aos modos mais explícitos do poder econômico operar. Com um dispositivo que não poupa o próprio realizador, o filme cede a câmera para jovens que documentam suas empregadas domésticas reafirmando o lugar de poder desses jovens, mas, ao mesmo tempo, possibilitando uma presença do filme nas filigranas de uma relação entre patrões e empregados que explicita múltiplas formas de burlar e reforçar as estruturas sociais. Interesse-nos nessa comunicação uma análise desta obra uma vez que ela nos coloca novas questões quando não desejamos separar a política como invenção de mundo e como intervenção nas formas de certos poderes aplacarem as formas de vida. |
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Bibliografia | BRASIL, André. Modulação/montagem: ensaio sobre biopolítica e experiência estética. Tese de doutorado em Comunicação – UFRJ, CFCH/ECO, 2008.
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