ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O genocídio em Ruanda visto pelo documentário contemporâneo |
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Autor | Vitor Zan |
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Resumo Expandido | Em um intervalo de aproximadamente 100 dias, de abril a julho de 1994, três quartos da população ruandesa de etnia tutsi foi executada. Trata-se de um genocídio "de proximidade", uma vez que grande parte das mais de 800.000 vítimas foi assassinada por seus vizinhos, colegas de trabalho ou até mesmo parentes pertencentes à etnia hutu. A situação socioeconômica ruandesa explica a escassez de imagens produzidas pelos sobreviventes, já que esses não possuíam a tecnologia necessária para tanto. Os poucos registros visuais subsistentes foram realizados por fotógrafos estrangeiros, dentre os quais os franceses Patrick Robert e Luc Delahaye, que decidiram permanecer no país apesar das operações destinadas a ejetar a mídia internacional. Embora o intuito seja de documentar a catástrofe, as imagens não dão conta da especificidade e da amplitude dos fatos. Além disso, o material registrado durante o início das atrocidades não recebeu a consideração necessária por parte dos meios de comunicação para que algo pudesse ter sido feito a tempo de evitar o massacre que o sucedeu.
Desde então, o vazio histórico relacionado ao evento deu origem a uma série de documentários, advindos de diversos países. O olhar estrangeiro precisou se reinventar para acompanhar os tribunais comunitários chamados Gacaca, assim como para dar conta da convivência visual e humana entre sobreviventes e agentes do genocídio (o que não ocorreu nem no caso do genocídio no Camboja, nem no extermínio dos Judeus durante a Segunda Guerra). Tais filmes suscitam questões capitais para os estudos cinematográficos em geral, e para os estudos do documentário em particular. Desse modo, a presente intervenção se baseia sobretudo na observação das particularidades estéticas de três filmes*, a fim de analisar o modo como eles respondem as seguintes questões: Como restituir significações e afetos aos arquivos? Quais são os papéis do cinema nesse contexto de pós-morticínio? Como filmar o inimigo? De que maneira pode-se contribuir para a constituição de uma memória coletiva, ou mesmo de uma história, adotando o ponto de vista das vítimas? De que modo o cinema pode pleitear a justiça? *Ainda que estabeleça pontes com outras obras, a presente análise privilegia três documentários : Rwanda, les collines parlent (2005) de Bernard Bellefroid; Mon voisin mon tueur (2009) e Gacaca, revivre ensemble au Rwanda (2002), ambos de Anne Aghion. |
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Bibliografia | AFRICAN RIGHTS. Rwanda : death, despair and defiance. African Rights, 1994.
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