ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Found footage - movimento cinematográfico contemporâneo |
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Autor | maria ganem muller |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem por objeto o found footage, movimento cinematográfico experimental que ganhou força nos últimos 15 anos impulsionado pela tecnologia digital. A partir de conceitos básicos da reciclagem cultural, pretendemos jogar luz sobre os principais mecanismos presentes num filme de montagem. Para tanto, traçamos um paralelo hipotético entre a fabricação de um filme de found footage e um processo de reciclagem industrial, em que verificamos três importantes etapas em sua constituição: a escolha da matéria prima, a transformação da mesma, e o resíduo da matéria antiga no produto final. Esta comparação abre caminho para uma analise dos diferentes tipos de imagem de arquivo, das formas de uso ou de ‘resignificação’ da imagem (destituída de seu discurso original e realocada num novo discurso), e da contaminação que a imagem de arquivo, carregada de historia e de sentido, provoca neste ‘novo produto’.
Voltar o olhar para as imagens que temos acumuladas na nossa cultura – e dar um novo significado a elas – é premissa desse movimento experimental que surge nos anos 60, ganha fôlego com a chegada do vídeo (anos 80 e 90), e se consagra na era da tecnologia digital (a partir de 2000). Uma historia marcada pelas mudanças estéticas do cinema dito moderno por Gilles Deleuze (novos paradigmas do tempo e do real); pela chegada de novas tecnologias questionando a natureza e os limites do cinema em si; e pelo que podemos chamar de uma ‘psiquê social contemporânea’ alimentada pela escassez de recursos, pela saturação midiática e consequente desvalorização da imagem, e por uma angustia relativa ao passado (Éric Méchoulan). Estes alicerces nos ajudam a compreender as motivações dos cineastas para criar tais obras de caráter hibrido, em que se conjugam passado e presente, amadorismo e artístico, real e fictício, registros de momentos familiares e documentos históricos. Aprimorar nosso olhar sobre estes filmes fragmentados nos faz descobrir discursos velados, subentendidos nessas imagens do passado, muitas vezes nunca ‘vistas’ até então. O trabalho de cineastas como Arthur Lipsett, Bruce Conner, Martin Arnold, Peter Forgacs, Bill Morrison e Christian Marclay – só para citar alguns – nos mostra como o found footage é capaz de conferir subjetividade ao documental, ironia e critica às imagens assépticas da publicidade, ou incorporar (e de certa forma equiparar) o cinema hollywoodiano ao cinema marginal. Na esfera nacional, podemos citar as obras de cineastas como Marcelo Masagão (Nos que aqui estamos por vos esperamos, 1999) e Danilo Carvalho (Supermemórias, 2009). Finalmente, voltando nosso olhar para as transformações do cinema na era da tecnologia digital, e à luz da crescente produçao nos últimos anos dos filmes de arquivo na rede, cabe uma reflexão acerca do papel da cultura digital na preservação, revisitação e sobrevida das nossas imagens. Tendo por base a conferência de Howard Besser intitulada The Internet as De-Facto Archive (2010), percebemos a que ponto a rede se tornou um importante instrumento de arquivamento, multiplicação e distribuição de imagens e, por conseqüência, do found footage contemporâneo. Nesta investigação virtual temos que trechos de filmes educativos, políticos, pornográficos, jornalísticos, sejam eles realizados pela industria cinematográfica ou por cineastas amadores, deram origem a novos filmes de montagem, igualmente disponíveis na Internet. Também nos foi possível identificar dois tipos de found footage virtual, o mashup e o remix digital, que por sua vez dialogam com a produção de cineastas icônicos do gênero, tais quais os supracitados. |
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Bibliografia | Deleuze, Gilles (1985). ‘Cinéma 2. L’Image-temps’. Les Éditions de Minuit, Paris.
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