ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Havia hiper-realismo sonoro em filmes clássicos? |
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Autor | Andreson Silva de Carvalho |
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Resumo Expandido | Sem raios, nem trovões, mas com uma forte tempestade de vento associada a imagens que nem sempre confirmam sua presença. Imagens de uma natureza quase estática, quando o esperado seriam folhas e galhos agitados, por pouco não arrancados de seu loco. Uma ventania tão intensa sonoramente, capaz de preocupar a mocinha quanto à integridade de seu amado, que se encontra em alto-mar (A Tempestade, Jean Epstein, 1947). Poderia essa construção ser considerada como hiper-realismo do som cinematográfico?
O hiper-realismo tem sido discutido e apresentado como uma das ferramentas de construção sonora do cinema contemporâneo, levando-se em conta, dentre outros fatores, o nível de imersão proporcionado pelas tecnologias digitais de captação, tratamento e reprodução sonora, assim como uma maior e melhor qualidade dos arquivos sonoros. As pinturas hiper-realistas também receberam um impulso na última década, graças aos avanços tecnológicos que proporcionaram uma definição fotográfica cada vez mais detalhista. Porém, o conceito de se pintar obras que se aproximam mais da fotografia do que da pintura surgiu, entre as décadas de 60 e 70, com a vanguarda norte-americana. O estilo, também conhecido como fotorrealismo, tem como princípio ampliar o nível de detalhamento da pintura, conferindo-lhe a ilusão de uma realidade maior e mais palpável do que a fotográfica. Alguns, porém, diferenciam o fotorrealismo das pinturas hiper-realistas, afirmando terem as últimas um caráter muito mais emotivo. E, se hoje temos um número cada vez maior de pintores hiper-realistas, não podemos deixar de ressaltar as obras realizadas há mais de três décadas por alguns nomes como: Chuck Close, Don Eddy, Ralph Goings e Richard McLean. Obras de grande valor para o conceito naquele período, mas que não podem ser comparadas ao nível de representação de uma realidade superior ao real obtido pelos artistas e pinturas atuais. A transposição de um conceito entre duas artes, principalmente, quando cada uma delas trabalha com sensações e percepções distintas, deve ser muito cautelosa. Da pintura para o som no cinema, o conceito de hiper-realismo precisou ser ajustado. O que seria uma realidade maior que a própria realidade no som cinematográfico? Ivan Capeller, em seu artigo “Raios e trovões: hiper-realismo e sound design no cinema contemporâneo”, nos apresenta com muita clareza alguns pontos dessa questão: a tecnologia sonora digital e seus sistemas de reprodução, tanto em salas de cinema e concerto, quanto nos caseiros homes theaters, permitem uma imersão sonora que possibilita a criação de uma realidade maior do que o real, como, por exemplo, a de se ouvir uma orquestra como se estivéssemos em seu centro (uma experiência auditiva até então impensada para o ouvinte comum), há também a capacidade real de uma cópia ser melhor que o original e a existência de ruídos e rupturas sonoras a contribuir com o mimetismo e a autenticidade de realismo em filmes que buscam, através de uma estética de amadorismo, convencer o expectador que sua realidade está acima dos indícios ficcionais de sua obra. A partir da ideia de audiovisão, defendida por Chion, também percebemos que a junção entre som e imagem constrói e transforma o sentido do que vemos e ouvimos. Muitos sons, mesmo não pertencendo a determinada imagem, se acoplam a ela de forma tão consistente que, muitas vezes, podem fazer nos passar despercebido o hiper-realismo existente em sua dissociação. Além disso, o assincronismo defendido por Pudovkin em “Asynchronism as a Principle of Sound Film”, assim como a utilização de sons que extrapolam o real sem dele se dissociarem, não poderiam também ser considerados embriões de um pensamento hiper-realista sonoro em filmes clássicos, mesmo antes de seu conceito se estabelecer através da pintura? |
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Bibliografia | CAPELLER, Ivan. “Raios e trovões: hiper-realismo e sound design no cinema contemporâneo”. In O Som no Cinema – mostra e curso. Realizado pela Caixa Cultural: Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, 2008.
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