ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Coproduzo, logo existo: o caso do cinema na Guiné-Bissau |
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Autor | Paulo Cunha |
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Resumo Expandido | Em fevereiro de 2013, uma das surpresas da lista de premiados no Festival de Berlim foi a distinção com uma menção especial na categoria de Melhor primeira obra á coprodução luso-guineense A Batalha de Tabatô (2013). Com a curta-metragem Tabatô (2013) e o documentário Música para Tabatô (em pós-produção), esta longa-metragem compõe um tríptico rodado na Guiné-Bissau sobre uma aldeia de músicos locais por João Viana (1966-), um realizador português nascido em Angola.
Meses antes, em outubro de 2012, Filipa César (1975-), artista portuguesa a desenvolver desde 2008 um complexo e moroso projeto de resgate e preservação da memória da Guiné-Bissau, instituindo um arquivo de cinema guineense desde os tempos coloniais que era um velho sonho do antigo líder independentista Amílcar Cabral, inaugurou em Paris a exposição “Luta Ca Caba Inda” – “A luta ainda não acabou”, que reunia imagens documentais filmadas pelos cineastas guineenses Flora Gomes e Sana Na N'Hada entre 1972 e 1980, imagens de dois filmes realizados pelos mesmos autores nos anos de 1980, e também filmes produzidos nos países com os quais a Guiné-Bissau estava alinhada na época (República Democrática da Alemanha, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Cuba), diversos registos áudio e uma série de cópias de vídeo de obras cedidas pelo cineasta e escritor francês Chris Marker. No ano anterior, a mesma artista havia já apresentado no DocLisboa 2011 A Embaixada (2011, coprodução Alemanha e Guiné-Bissau), um documentário sobre os códigos de representação da antiga lei colonial portuguesa na Guiné-Bissau e o conflito de regras, perspetivas e modos de produção de memória diferentes. Entretanto, Flora Gomes (1949-), o mais internacionalmente reconhecido cineasta guineense, não tem financiamento guineense desde 1996 (Pó di Sangui, coprodução de França, Guiné-Bissau, Tunísia e Portugal) e desde então só filmou o seu país natal por uma vez (As Duas Faces da Guerra, 2007, documentário corealizado com Diana Andringa), uma vez que as suas duas últimas longas-metragens foram rodadas em Cabo Verde (Nha Fala, 2002, coprodução entre Portugal, França e Luxemburgo) e em Moçambique (A República dos Mininus, 2010, coprodução entre Portugal e França). Sana Na N’Hada (1950-), segundo cineasta guineense mais reconhecido, só filmou duas vezes nas últimas duas décadas – Xime (1994, coprodução Holanda e Guiné-Bissau) e Bissau d’Isabel (2005) – e uma nova geração de documentaristas, onde se incluem Adulai Djamanca (19??-),Waldir Araújo (1971-), Domingos Sanca (19??-), Geraldo Manuel de Pina (19??-) ou Suleimane Biai (19??-), também padece de uma inevitável e crónica inactividade. Guiné-Bissau é o terceiro país mais pobre do mundo e vive em permanente instabilidade política, social e militar desde a independência. Flora Gomes acredita que a Guiné-Bissau “é um país com muita história para contar em diversas formas”, mas é cada vez mais um país sem cinema próprio. Sem produção própria, o cinema da Guiné-Bissau é praticamente inexistente e só sobrevive devido a algumas coproduções que são rodadas em território guineense. Dramaticamente, o atual cenário contraria um dos projetos do seu principal líder independentista: ainda antes da independência, Amílcar Cabral decretou o cinema como um importante meio revolucionário, importante para uma independência do gesto e do olhar e para a construção de uma memória própria, e enviou Flora Gomes, Sana Na N’Hada, Josefina Crato e José Bolama Cobumba para Cuba para estudar cinema (1972). O cinema guineense nasceu, portanto, antes da própria independência política (auto decretada em 1973 e reconhecida por Portugal em 1974). |
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Bibliografia | Cinemas de África (1995). Lisboa, Cinemateca Portuguesa.
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