ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | (nostalgia) de Hollis Frampton: cinema, autobiografia, apagamento |
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Autor | Patrícia Mourão de Andrade |
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Resumo Expandido | Em 1971, Hollis Frampton, cineasta e prolífico ensaísta americano, conhecido por suas radicais investigações formais, fez (nostalgia), primeira parte de Hapax Legomena, projeto composto por sete filmes e descrito por Frampton como uma “autobiografia oblíqua, vista com um foco estereoscópico com a filogenia da arte do filme tal como precisei recapitulá-la durante meu desenvolvimento intermitente como cineasta". De todos os filmes que integram Hapax Legomena, nenhum se aproxima mais da ideia de autbiografia que (nostalgia). Entretanto, nenhum desafia tanto a forma convencionada do gênero quanto esse filme.
Retomando a tradição, que remonta a Santo Agostinho, das narrativas de si motivadas por uma transformação radical (conversão) na vida de seu autor, Frampton narra sua passagem de fotógrafo para cineasta. Rigorosamente simples, o filme é composto por por 13 planos de aproximadamente três minutos cada (equivalentes aos 100 pés de um rolo de 16mm) nos quais 13 fotografias, realizadas por Frampton entre 1959 e 1966, são queimadas, uma a cada plano, pela boca do fogão elétrico sobre o qual estão apoiadas. Em voz over, um narrador em primeira pessoa, supostamente o autor das fotografias e do filme, comenta as imagens e seu contexto de produção. Eventualmente esse narrador dirige-se a uma segunda pessoa, o espectador, convocando-o como o destinatário direto desse relato. Como as imagens sobre as quais o narrador versa estão presentes, o espectador pode comprovar a sinceridade desse relato. Ao implicar diretamente o espectador, Frampton estrategicamente aproxima-se de algumas condições de possibilidade da autobiografia: importância da experiência pessoal e possibilidade de oferecer dela um relato sincero a outrem. Para Philipe Lejeune, mais que uma possibilidade, trata-se de um "compromisso explicito do autor, um pacto de vercidade proposto aos leitores." Entretanto, em Frampton, nada disso é sem ironia. A voz do narrador não é a de Frampton, mas a de Michael Snow, cineasta e amigo com quem partilha um mesmo interesse pela investigação das estruturas fundamentais do cinema. Tampouco a voz comenta a imagem que é apresentada na tela, mas sempre a imagem que está por vir, de forma que o espectador se vê sempre na desconcertante posição de tentar, a cada fotografia, lembrar-se do que foi dito na imagem anterior ao mesmo tempo em que precisa memorizar o que está sendo dito para podeer acessá-lo na imagem seguinte. Além disso, contrariamente à ideia de preservação ou transmissão colocada em todas as narrativas autobiográficas, em (nostalgia) tudo caminha para a desaparição. Com efeito, o único movimento neste filme inteiramente composto por imagens fixas é o do apagamento, via combustão, das fotografias. Nesta comunicação esperamos investigar os deslocamentos entre linguagem/ som e imagem, fixidez e movimento, identidade e representação com que Frampton mina a indicialidade capaz de aferir qualquer veracidade ao relato. Ao fazê-lo pretendemos abordar o complexo modo com que Frampton tensiona autobiografia e cinema, iluminando os problemas especificos do cinema para narrar o passado. |
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