ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Por um "cinema total": realismo imersivo e o Cinerama no Brasil |
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Autor | João Luiz Vieira |
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Resumo Expandido | Na recente edição do bluray de Inimigos públicos (Public Enemies, 2009), dirigido por Michael Mann, há uma sequência em que os principais protagonistas estão jogando cartas. Simultaneamente, o espectador que está assistindo ao filme confortavelmente sentado em sua sala, maravilhado com a qualidade visual e o som surround multidirecional que sai das pequenas caixas espalhadas pelo ambiente e da frente do seu grande monitor de TV de alta definição e tela plana – um verdadeiro home theater, com seu control pad (ou joystick) na mão – clica em um botão especial e interrompe a cadência e o fluxo do filme para participar de um jogo de cartas que os gângsteres estão jogando na narrativa cinematográfica, bem ali à sua frente. De certa maneira, ele “entra” em uma narrativa secundária e começa a jogar aquele mesmo jogo do filme, enquanto a verdadeira narrativa do filme é suspensa. Dependendo do interesse do agora também jogador virtual e ex-espectador, o filme passa a ser secundário e vai literalmente para o espaço... Esta ação, melhor dizendo, intervenção direta na narrativa fílmica (suspensão, congelamento, abandono e nova entrada em outra camada narrativa), poderia corresponder ao que Bazin vislumbrara como o “mito do cinema total” em meados do século XX (1946), quando refletia sobre a expansão visual promovida pelos então novos processos panorâmicos surgidos em meados dos anos 1950? Se a situação descrita acima é apenas uma das inúmeras possibilidades de “realismo imersivo” disponibilizadas pela versatilidade da tecnologia digital, como podemos questionar e, ao mesmo tempo, expandir os mesmos princípios de “cinema impuro” (1952) reivindicados por Bazin? Será que o espaço doméstico seria a encarnação definitiva e a última fronteira de Bazin agora reformulada para incluir uma noção mais abrangente de “cinema totalmente impuro”? Estas são algumas das questões que levanto nesta comunicação como parte de um novo projeto de pesquisa, ao mesmo tempo em que procuro expandir conceitos de hibridismo para incluir a autoria e a relação entre cinema e convergências textuais, tecnologias e plataformas; entre novos perfis e (re)definições de espectação interativa; bem como as formas com as quais estes novos regimes de consumo audiovisual renegociam suas relações com as indústrias midiáticas contemporâneas. Para tanto retorno ao início da década de 1950, mais precisamente setembro de 1952, quando uma verdadeira revolução no estatuto do cinema (produção, exibição, absorção espectatorial pela tecnologia cinematográfica)ampliou e redefiniu o que chamo de "realismo imersivo" a partir da exibição de "Isto é Cinerama" (This is Cinerama, Fred Waller, Lowell Thomas, EUA, 1952). Entre 1952 e 1962 (ano de realização do último dos filmes feitos no processo original do Cinerama) uma profusão de novos formatos tratou de ampliar a dimensão audiovisual percebida pelos espectadores, desenvolveu um novo cinema de sensações e incluiu, bem mais que antes, o corpo espectatorial como parte integrante da tecnologia cinematográfica ao absorve-lo no regime cambiante de imagens de grandes dimensões e de som multidirecional estereofônico. CinemaScope, Todd-AO, VistaVision, Technirama, entre outros, abriram o caminho para situações contemporâneas (IMAX 3-D)públicas e também de fruição individual e interativa (as diversas formas de jogo em bluray "U-Control" a partir de filmes narrativos de ficção )que podem, enfim, materializar o que Bazin (especialmente em seu elogio às possibilidades do CinemaScope) intuiu e defendeu como um possível "mito do cinema total".
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Bibliografia | BELTON, John. Widescreen Cinema. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1997.
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