ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O SAMBA, A PRONTIDÃO E OUTRAS BOSSAS: O ARQUIVO ROGÉRIO SGANZERLA |
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Autor | ANNA KARINNE MARTINS BALLALAI |
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Resumo Expandido | A formação de alguns arquivos pessoais de documentação cinematográfica correlata, no Brasil, está em grande parte associada à atividade crítica de seus titulares. Vale destacar os arquivos de Pedro Lima, Adhemar Gonzaga, Alex Viany, P. E. Salles Gomes, Glauber Rocha, David E. Neves e Rogério Sganzerla. Nascido em Joaçaba (SC), Sganzerla (1946-2004) precocemente se destacou como crítico e cineasta a partir da segunda metade dos anos 1960. Obteve sucesso e notoriedade, mas também enfrentou períodos de marginalidade, denunciados por ele mesmo, especialmente nos artigos que publicou nos anos 1980-90.
Além da filmografia que compreende cerca de 30 títulos entre longas, médias e curtas-metragens, Sganzerla constituiu um precioso arquivo pessoal, o qual se encontra praticamente inédito e está sob custódia familiar. Uma faceta menos conhecida desse crítico, escritor, roteirista, diretor, montador e produtor cinematográfico é seu caráter de pesquisador. Este caráter torna-se mais evidente em seus “filmes de montagem”, sobretudo aqueles realizados sobre a presença de Orson Welles no Brasil, em 1942, e sobre Noel Rosa. Mas é na análise de seu arquivo pessoal que esta faceta vem à tona de forma mais expressiva: além dos originais de sua produção intelectual e da vasta documentação nos mais diversos suportes, gêneros e tipologias, encontram-se singulares volumes documentais resultantes de pesquisas históricas, iconográficas e fonográficas realizadas por Sganzerla. A delimitação destes volumes não é óbvia e impõe um grande desafio ao tratamento documental do arquivo: como preservar o arranjo original e a integridade das “linhas de pesquisa” empreendidas pelo cineasta? São pilhas de documentos sem uma separação física explícita, mas que numa análise cuidadosa podem evidenciar um mesmo eixo temático ou a remissão a determinado projeto fílmico ou literário do autor. Dentre as “linhas de pesquisa” que identifiquei no acervo, destaco preliminarmente: 1) Relações entre artes, cultura e sociedade na obra de Noel Rosa; 2) O impacto artístico e nos meios de comunicação da presença de Orson Welles no Brasil, bem como implicações políticas e sociais deste episódio; 3) Vida e obra do cineasta Luiz de Barros; 4) Investigação e defesa de um Cinema Moderno. As três primeiras “linhas de pesquisa” evidenciam o interesse de Sganzerla sobre a cultura brasileira dos anos 1930-40, em chave diversa da influência tropicalista e do resgate da Chanchada realizado nos anos 1970 (período Belair). A hipótese é a de que o retorno às referências artísticas e culturais deste período tenha sido uma forma encontrada pelo cineasta de legitimar e dar continuidade à sua própria trajetória artística, que nos anos 1970-80 teria sido condenada à marginalidade. Verifico ainda, nesta operação, um cruzamento entre a tradição romântica do elogio ao gênio (Noel Rosa, Orson Welles e João Gilberto) e um retorno ao “nacional-popular”, justamente num momento em que a crítica acadêmica revia os limites ideológicos desta proposta política e cultural. Este cruzamento resultou numa vertente de produção na obra de Sganzerla que podemos denominar como “filmes de montagem”, isto é, filmes constituídos em grande parte de materiais de arquivo “reciclados” e re-significados – estratégia de produção que garantiu a continuidade do trabalho de Sganzerla até pelo menos “Tudo é Brasil” (1997). |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. Alex Viany: crítico e historiador. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Petrobras, 2003.
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