ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O som direto no cinema de Glauber Rocha |
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Autor | Priscila de Almeida Resende |
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Resumo Expandido | Esta proposta de trabalho tem o intuito de pesquisar a introdução dos gravadores de som portáteis no Brasil na década de 60 e sua penetração no ramo do cinema ficcional brasileiro, analisando os reflexos estéticos da adoção dessa tecnologia na narrativa fílmica. Para isso, buscaremos fazer um levantamento histórico do advento deste aparato no Brasil, e a sua utilização nos filmes ficcionais produzidos na época, a partir da filmografia produzida pelo cineasta Glauber Rocha, focando nos filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de 1964 e o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” de 1969. A opção pelo enfoque na análise destes dois filmes se dá pela possibilidade de promover um estudo comparativo acerca dos diferentes registros do uso do som em ambos os filmes, em que por um lado temos “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, com a banda sonora construída inteiramente na pós-produção e “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” primeiro filme de Glauber Rocha a ser captado com som direto, possibilitando traçar assim, um paralelo com a transição do som direto nos filmes de ficção da época. Pretende-se a partir disso, analisar como a chegada de uma nova tecnologia viria modificar a maneira como se organizavam os parâmetros de filmagem, afetando consequentemente a narrativa final dos filmes que se utilizavam desse novo aparato tecnológico.
A demanda por equipamentos mais leves de captação de som surge inicialmente da necessidade de rapidez e dinamismo das gravações do telejornalismo e do rádio. Dessa procura advém o gravador magnético portátil Nagra em 1952, equipamento que posteriormente seria incorporado às filmagens cinematográficas estrangeiras no final da década de 50, permanecendo como protagonista na rotina de captação de som direto durante as próximas três décadas da história do cinema. Os pioneiros no seu uso para som no cinema seriam documentaristas europeus e norte-americanos, e essa tendência se confirma também no Brasil, onde a pronta adesão ao equipamento portátil mais leve se deu por documentaristas. O NagraIII chegaria no Brasil por volta do início da década de 60, doado pela UNESCO ao IPHAN com a condição de que fosse organizado um curso de cinema documental para a formação de jovens cineastas. Grande parte dos documentários produzidos por cineastas oriundos desse curso, utilizaria entusiasticamente esse novo gravador em seus filmes, buscando captar ao máximo o som do cotidiano das pessoas comuns, principalmente as falas e seus diversos sotaques. Se no ramo documental, o gravador de som portátil se disseminou rapidamente, no campo da ficção o seu impacto ficou diluído, com parte representativa da produção de filmes ainda construindo a banda sonora na montagem. Os produtores dos filmes orientavam a se dublar os diálogos na pós-produção, visando uma economia de verba, já que o som direto demandaria um tempo maior para as filmagens, com a inevitável repetição de takes para o som. Podemos perceber os reflexos diretos da maior complexidade gerada pela gravação de som direto nos sets de filmagem, em que as outras equipes se organizavam e em parte, se moldavam para possibilitar o registro do som direto. Para se evitar o ruído inerente das câmeras filmadoras, temos a utilização de lentes teleobjetivas que permitem um distanciamento da câmera da ação filmada, e do blimp, um pesado aparato utilizado para abafar o ruído para abafar os ruídos provenientes do funcionamento da câmera filmadora. Com isso, temos um esquema mais pesado, que dificulta a mobilidade, gerando planos estáticos e de longa duração. Pode-se ainda observar a produção de filmes que acabam por misturar a técnica anterior de filmagem em estúdios com a de captação em cenas exteriores. A consolidação da captação de som direto no cinema brasileiro viria a se dar principalmente a partir dos anos 70, apesar de ainda permanecer por um tempo parte da antiga tradição. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean-Claude. Cinema brasileiro. Propostas para uma história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979
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