ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Comparando filmes argentinos e brasileiros do período 1930-1950 |
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Autor | Flávia Cesarino Costa |
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Resumo Expandido | Enquanto o cinema argentino soube, desde os anos 1930, lucrar com as preferências populares através da produção de enredos musicados e cômicos, o cinema brasileiro conheceu um período lucrativo de aceitação popular apenas quando abraçou as chanchadas dos anos 1950. Em ambos os países sempre houve um divórcio entre as demandas de massa - ligadas ao riso, à diversão popular, à música e aos enredos maniqueístas - e as aspirações dos críticos pertencentes às elites. Entretanto, se na Argentina os produtores de filmes alinharam-se às demandas populares, no Brasil os produtores cinematográficos optaram por alinhar-se às elites. Como salienta Arthur Autran, a indústria cinematográfica argentina foi comandada por empresários com larga experiência na comercialização e distribuição de produtos culturais, sensíveis ao gosto popular, enquanto que no Brasil os produtores de filmes desprezaram a faceta comercial do cinema e preferiram associar-se não ao gosto popular, mas às demandas do governo, que estava mais interessado no potencial de propaganda desta mídia, e não em suas promessas comerciais. Para Autran, se no âmbito argentino o cinema industrial estava compromissado com o comércio, no Brasil o cinema que se via como industrial estava mais ligado a uma atividade de produção de filmes totalmente divorciada de qualquer preocupação comercial. Como resultado, os filmes argentinos do período 1930-50 mostram antagonismos de classes, com enredos que contrapõem personagens ricos e despreocupados com o país, a pobres sinceros e nacionalistas. No Brasil, porém, os enredos das películas das décadas de 1940 e 1950 terão uma forte componente de arranjos políticos entre a burguesia e as frações oligárquicas da elite, e clara conciliação de classes, seja nas comédias musicais cariocas, seja nas produções paulistas mais sérias, alinhadas à ideia de um cinema de qualidade. Pretendo comparar películas de ambos os países, tendo em conta estas diferenças contextuais, e buscar em seus conteúdos os reflexos destas diferenças.
Atentarei para os temas das relações de classe e de gênero, buscando discutir as conexões entre formas de resolução de conflitos nas tramas, as influências de gêneros cinematográficos importantes na América Latina por seu apelo popular, tais como a comédia e o melodrama, bem como as distintas formas de entender e fazer cinema e os respectivos contextos históricos destes dois países. A metodologia desta comparação inicia-se portanto por este caminho aparentemente simples: partir de uma questão - conflitos de classe, conflitos de gênero - e buscar como ela aparece nos filmes do período industrial nos dois países. Mas isso não garante nem perfeita simultaneidade, nem perfeitas similaridades, porque trata-se de uma comparação entre situações que não são iguais, nem exatamente contemporâneas. É preciso lembrar que o desenvolvimento urbano e industrial da Argentina, assim como o crescimento da sua produção cinematográfica tomou impulso nos anos 1930s e 1940, enquanto que no Brasil a industrialização e a modernização mais intensa de certas áreas, que resultaram em estímulo à atividade cinematográfica, tomaram força apenas nos anos 1950s. A intenção é investigar se procede a impressão de que nos filmes argentinos os conflitos de classe são mais frequentemente resolvidos com a presença de grupos organizados de pessoas e trabalhadores, enquanto que no Brasil a resolução destes conflitos ignora os projetos coletivos e privilegia saídas sempre individuais - como é característica de nossos populismos. Também é preciso avaliar como o ambiente patriarcal e sexista de cada um destes países vai ter efeitos específicos nas relações de gênero que aparecem em seus filmes |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. Sonhos Industriais: O Cinema de Estúdio na Argentina e no Brasil nos anos 1930. In: Revista Contracampo, nº. 25, dez de 2012. Niterói: Contracampo, 2012. Pags: 117--‐132.
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