ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Entre o espelho e a janela: algumas notas sobre o Vídeo. |
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Autor | Larissa Souza Vasconcelos |
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Resumo Expandido | Na primavera do ano de 1976, a teórica e crítica de arte americana Rosalind Krauss trazia ao mundo um dos seus mais importantes e, talvez, mais criticados textos. Publicado originalmente na revista October, "Video: The Aesthetics of Narcissism" vinha defender a tese de que o Vídeo seria um medium eminentemente narcisista. Tal teoria se fundamentava na observação de características próprias do dispositivo videográfico (como a projeção e a recepção simultâneas da imagem) e dos usos atribuídos a esse nos circuitos de arte. Tecendo suas análises a partir de trabalhos como Centers e Air Time, de Vitor Aconcci; Boomerang, de Richard Serra e Revolver Upside Down, de Bruce Nauman; Rosalind Krauss tenta apontar o narcisismo como leitmotiv das produções da videoarte até aquele momento, final dos anos 70.
Por sua vez, o filósofo tcheco Vilém Flusser também toma o Vídeo para si como um objeto de urgente reflexão. No seu livro "Gesten. Versuch einer Phänomenologie", de 1991 (traduzido para espanhol como Los gestos. Fenomenología y Comunicación, em 1994), Flusser pensa o Vídeo como um gesto que representa, em parte, a mudança de outro gesto tradicional. Decifrar essa mudança, essa passagem entre gestos seria, para ele, “um método de decifrar a crise existencial que vivemos no presente” (FLUSSER, 1994, pg. 189). Para o autor é fácil se levar por uma primeira impressão de que o monitor de vídeo se assemelhe a um espelho por projetar a imagem ao mesmo tempo em que a câmera a captura. Mas com pequenas considerações sobre a diferença entre o espelho clássico e o monitor (que poderiam até parecer óbvias ou inocentes), Flusser vai criando desestabilidades nesta “primeira impressão”: o monitor, ao contrário do espelho, emite sons, não reproduz invertidos o lado direito e o lado esquerdo, não reflete uma luz dá própria cena e sim emite uma luz catódica... Por estas simples diferenças o Vídeo teria, para Flusser, a capacidade de nos oferecer uma imagem completamente distinta dos espelhos clássicos, uma imagem com um novo cunho e em uma forma revolucionária que, através dos seus sons, da sua luz, e da sua forma de refletir, inverteria todos os nossos conceitos tradicionais do que seria uma realidade refletida e especular. Não, para Flusser o monitor de Vídeo não se assemelha ao espelho. Aliás, pela própria inversão da forma de um espelho refletir, ele mais se parece com uma janela. Aqui, colocamos as ideias de Flusser e Krauss lado a lado. Por vezes as sobrepomos; convidamos outros para essa conversa. Tudo isso movido pelo nosso interesse de tentar entender quais os significados, para esses (dois) autores, da relação entre os indivíduos - os que gravam, os que são gravados e os que assistem (mesmo que por vezes os três se confundam) - e esse aparato/médium. Este texto vem como um pequeno bloco de notas tomadas num percurso de leituras. Um percurso de aproximação. Enquanto caminhamos no largo vão entre o espelho e a janela. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
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