ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O Sentido e a Presença – sobre o cinema de Eugène Green |
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Autor | Pedro de Andrade Lima Faissol |
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Resumo Expandido | Objetiva-se apresentar aqui o aspecto central da pesquisa de mestrado em andamento: a recepção dos filmes de Eugène Green a partir do dualismo sentido/presença. Na primeira parte da pesquisa, intitulada “A distância é a alma do belo”, veremos que Eugène Green faz uso de dispositivos cênicos e pictóricos com objetivos unívocos: dar sentido e visibilidade ao verbo. De fato, nesse primeiro “gesto” ao qual nos limitaremos num primeiro momento, a palavra desempenha um papel de grande importância. Veremos que Eugène Green conduz toda a sua “mise en scène” para melhor ampará-la. Seja no trabalho com o ator, seja na disposição dos objetos, trata-se sempre de um mesmo princípio; servir ao texto. Como consequência, um fosso se abre ante o espectador, distanciando-o da cena. Pois: 1. O contato com o filme é mediado por um “ato semântico”; 2. O espectador encontra-se separado do mundo ficcional por um “proscênio” que o afasta da cena; 3. A materialidade dos objetos é suprimida pela supremacia dos signos.
Na segunda parte da pesquisa, intitulada “A graça pela imanência”, estudaremos um outro “gesto”, localizado nos antípodas do primeiro. A um mundo aplainado e distante, transcendental e grave, Eugène Green nos oferece um antídoto: o corpo do ator – a sua presença. Se, num primeiro momento, o ator era “atravessado” pelo texto, declamando-o de forma serena e tranquila (sem manifestar obstáculos para a sua “travessia”), aqui já não restará texto algum. Nessa segunda parte, trataremos de momentos nos quais Eugène Green suprime a palavra para nos recolocar em contato com o silêncio eloquente da natureza. De um lado, a linguagem, o signo, a mediação; de outro, o corpo, a matéria, a presença. Eugène Green faz a sua “mise en scène” oscilar entre esses dois polos para deles tirar maior proveito. A imagem aplainada ganhará um corpo cuja espessura e materialidade provocará uma emoção antagônica à descrita na primeira parte. Não mais a “rarefação” da linguagem, mas a “corporeidade” da natureza. Em “Produção de presença”, Hans Ulrich Gumbrecht faz uma severa crítica ao predomínio do regime do sentido sobre o da presença, e atribui isso à longa tradição ocidental dos estudos da hermenêutica, que supostamente superestima a “interpretação” dos signos nas obras de arte. “Se atribuirmos um sentido a alguma coisa presente, isto é, se formarmos uma ideia do que essa coisa pode ser em relação a nós mesmos, parece que atenuamos inevitavelmente o impacto dessa coisa sobre o nosso corpo e os nossos sentidos” (GUMBRECHT, p. 15). Posteriormente, defende que o espectador deve sentir em relação à obra de arte uma oscilação entre “efeitos de presença” e “efeitos de sentido”. A hipótese central da pesquisa em andamento é justamente a de que Eugène Green consegue colocar em prática essa dualidade no centro de sua “mise en scène”. Deseja-se expor ao público presente a maneira pela qual isso se dá em seu cinema através da análise de alguns fotogramas selecionados do seu segundo longa-metragem, “Le Monde vivant” (2003). Veremos que o privilégio dado ao mundo inteligível sobre o mundo sensível, fazendo entrever seu gosto pela metafísica neoplatônica, é fruto de uma sabedoria cuja formação se deu no teatro. De fato, chama a atenção como o cinema de Eugène Green se apropria do teatro. Apesar de distinguir perfeitamente uma linguagem da outra, o espaço sugerido pela sua “mise en scène” é derivado do palco teatral. Green comprime a realidade visível para o interior de uma caixa cênica cujo aspecto teatral força o espectador a se relacionar com o filme através da leitura de signos. Depois, uma vez estabelecido e consolidado o jogo teatral com o espectador, Green passa a adotar uma lógica puramente tátil, imanente e rebelde a significações. Nesse segundo momento, mostraremos que Eugène Green faz uso de um dispositivo “bressoniano” que consiste em enquadrar os corpos dos atores de forma fragmentada e, assim, restituir ao filme a noção de presença do ator em cena. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. "O cinema e a encenação". Lisboa: Texto & Grafia, 2006.
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