ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Olhares da fé: representações do outro no cinema pelo viés da religião |
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Autor | Morgana Gama de Lima |
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Resumo Expandido | A abordagem do tema religião no cinema brasileiro passa por diferentes significações em sua trajetória. Como parte constituinte da própria cultura, o pertencimento religioso no Brasil em sua manifestação plural e perpassada por sincretismos despertou discussões entre cineastas brasileiros quanto à sua influência na dinâmica social, sobretudo em relação aos processos de engajamento político. Jean-Claude Bernadet (1994) ao comentar a relação entre cinema e religião no Brasil destacou que no Cinema Novo, a questão religiosa foi temática central de diversos filmes, entre eles, Barravento (1962) de Glauber Rocha e Viramundo (1965) de Geraldo Sarno em que segmentos pobres da população encontram nos ritos religiosos um refúgio para as contradições sociais. Nos anos 1960, período no qual esses filmes foram produzidos, o conceito de alienação do povo era importante enquanto argumento, pois reforçava a necessidade de uma classe intelectual que agisse como “conscientizadora” do povo e, nesse sentido, catalisadora do processo revolucionário. Com o Golpe de 1964 e a frustração quanto ao projeto de conscientização das massas, “o intelectual cai do pedestal” (BERNADET, 1994, p.107) e o cinema, ao invés de uma abordagem crítica da religião – quando não ambígua – apresenta filmes como Iaô (Geraldo Sarno, 1974) e O Amuleto de Ogum (Nelson Pereira dos Santos, 1974) em que há uma “compreensão antropológica” do fenômeno religioso (XAVIER, 2007) e sua representação como forma de resistência e organização popular. Mesmo com as diferentes significações que a abordagem de religião adquiriu no cinema brasileiro, a maior parte de seus registros está associada à representação das classes populares, habitante das periferias urbanas. Mediante mudanças na configuração religiosa do Brasil, provenientes principalmente do crescimento de igrejas pentecostais e neopentecostais entre as camadas mais pobres da população, o aspecto religioso ressurge no cinema brasileiro como possibilidade de interpretação das “margens” no cinema, através da construção de personagens cuja identidade está associada ao discurso de tais instituições. Em um contexto marcado pelo esboroamento dos ideais políticos de outrora e pela ascensão de identidades fragmentadas (HALL, 2007), surge a necessidade de pensar como as personagens caracterizadas como evangélicas no cinema brasileiro contemporâneo evocam e (re)significam a discussão entre religião e poder já presente em outros períodos do cinema. Se no Cinema Novo a religião era vista sob a perspectiva da alienação, depois como potencialidade, como ela pode ser interpretada nas recentes produções do cinema brasileiro? Quais as implicações políticas da presença dessas personagens e em que medida elas funcionam como “intercessoras” de seus autores (DELEUZE, 2005) para produzir enunciados coletivos acerca do povo (em invenção) do cinema brasileiro? A considerar a quantidade de produções que trazem essas personagens, para efeitos dessa comunicação, será dado destaque a Teodoro do filme Contra todos (Roberto Moreira, 2004) e Dinho do filme Linha de passe (Walter Salles Júnior e Daniela Thomas, 2008), atentando para a forma como o vínculo religioso é caracterizado e sua interferência sobre a construção de alteridades no cinema. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean-Claude. Cinema novo, anos 60-70: a questão religiosa. In.:__SCHWARTZ, Jorge & SOSNOWSKI, Saul (Org.). Brasil: o trânsito da memória. São Paulo: Edusp, 1994. (p. 101-111).
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