ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Primeiras incursões de Lars von Trier entre a arte e a pornografia |
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Autor | Emília Maria da Conceição Valente Galvão |
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Resumo Expandido | A presente comunicação se propõe a examinar algumas estratégias recorrentes nos modos de encenação e no tratamento dado à sexualidade na produção do cineasta dinamarquês Lars von Trier. Recentemente, a mídia tem dado grande visibilidade ao processo de produção do longa-metragem The Nymphomaniac. Com estreia prevista para maio de 2013, o filme tem sido anunciado pela imprensa como um projeto erótico ou pornográfico, com uma versão hardcore para exibição em festivais e outra mais leve, formatada para o circuito comercial.
O interesse pelo tema, no entanto, pode ser situado desde momentos iniciais da trajetória do diretor, como atestam estudiosos de sua obra (STEVENSON, 2002). No contexto desta comunicação, especial atenção será dada à análise de um comercial para a televisão dirigido por Lars von Trier em 1986 chamado Take a bath with Ekstra Bladet. Com exibição proibida pela principal emissora de televisão dinamarquesa, por apresentar uma cena de nu frontal, com um pênis ereto (ainda que quase inteiramente encoberto); o filme também se ancora, ao mesmo tempo que subverte, de forma paródica, certos lugares-comuns na encenação do voyeurismo e na mostração do corpo feminino pelo cinema recorrentes na obra do cineasta Brian de Palma, e nas releituras de filmes de Hitchcock (Dublê de Corpo, Vestida para Matar), que alcançavam grande popularidade no exato momento em que o jovem Lars von Trier se afirmava no circuito de festivais de cinema. Realizado apenas dois anos depois do longa-metragem de estreia de Lars von Trier (O Elemento do Crime), este anúncio, estilisticamente, apresenta poucos pontos de conexão com a sua produção da época. Não obstante, o trabalho parece antecipar elementos que se tornariam marcantes na produção cinematográfica posterior do cineasta, como o exercício de uma estética do mal feito (ODIN, 2000), marcada pela exploração ostensiva de descuidos na construção da narrativa audiovisual, de inverossimilhanças no roteiro à precariedade no uso dos recursos técnicos de filmagem. Ao mesmo tempo, a análise do anúncio serve como ocasião para refletir sobre a natureza do diálogo empreendido de modo insistente pelo cineasta com as estratégias dos chamados “gêneros de corpo” (WILLIAM,1991) – a saber o melodrama, a horror e a pornografia – por meio da convocação de reações miméticas instintivas e excessivas do espectador proporcionadas pelo exibição do que a autora caracteriza como o “espetáculo de um corpo capturado sob o domínio de intensa emoção e sensação” (WILLIAMS, 1991,p.4). De especial relevância neste percurso analítico, será compreender como o interesse pela exibição de cenas de sexo não-simulado, no contexto da produção de um diretor vinculado às tradições de um cinema de arte ou autoral, é revelador também das conexões entre pornografia e vanguarda.(WILLIAMS, 2004) O trabalho é um levantamento preliminar decorrente de um projeto de pesquisa em andamento que visa compreender o cinema de Lars von Trier no contexto das diferentes tradições que regem, no campo da realização dos filmes narrativos de ficção, as escolhas relativas à expressão dos afetos dos personagens e à convocação da participação afetiva do espectador. Uma das hipóteses deste projeto é de que a exploração de estratégias adotadas pelos “gêneros de corpo” vem possibilitando ao cineasta, desde os anos 80, construir uma obra que se notabiliza pela problematização de uma série de questões éticas e estéticas relacionadas à expressão e à convocação da afetividade pelo cinema. |
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Bibliografia | ODIN, Roger. De la fiction. Bruxelles: De Boeck & Larcier, 2000
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