ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O dispositivo no cinema de horror found footage |
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Autor | Ana Maria Acker |
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Resumo Expandido | Os denominados found footage films (filmes de gravações encontradas ou perdidas) são obras realizadas em parte ou totalmente a partir de falsos registros amadores de situações estranhas ou extraordinárias (CARREIRO, 2011). A proposta para esta apresentação é realizar uma reflexão inicial acerca do dispositivo cinematográfico na constituição imagética e narrativa dessas obras. O corpus será composto pelos quatro filmes da série Atividade Paranormal: Atividade Paranormal (2007), de Oren Peli; Atividade Paranormal 2 (2010), de Todd Williams; Atividade Paranormal 3 (2011) e Atividade Paranormal 4 (2012), ambos de Henry Joost e Ariel Schulman. Esta apresentação resulta de pesquisa de doutorado desenvolvida junto ao PPGCOM-UFRGS, com apoio da bolsa Capes DS, sob orientação da prof. Dra. Miriam de Souza Rossini. A pesquisa investiga de que forma as produções found footage circulam no gênero horror e se de alguma maneira elas o reconfiguram. O dispositivo cinematográfico gera discussões desde as primeiras imagens em movimento processadas por máquinas e exibidas para públicos em cafés na Paris do século XIX. Jean-Louis Baudry enfatiza a necessidade de desvendar o dispositivo, de se compreender a ideologia que rege a lógica desses processos. O teórico pensa “a questão da ideologia a partir de um exame mais detido do ‘aparelho de base’ que engendra o cinema: o sistema integrado câmera / imagem / montador / projetor / sala escura” (XAVIER, 1983. p. 359). Baudry não acredita na neutralidade do aparelho e questiona seu código de perspectiva herdado da pintura (XAVIER, 1983). O modo de olhar ocidental condiciona a ação do público diante dos filmes: “Particularmente, o cinema clássico, com todas as regras de continuidade que o caracterizam, se empenha em “mimar” o espectador, dar-lhe a ilusão de que ele está no centro de tudo” (XAVIER, 1983, p. 360). Ao dissimular a base técnica, o aparato do cinema reafirma a ideologia burguesa que o gerou. Baudry entende que a câmera ocupa papel central nesse processo, uma vez que consegue reproduzir os pressupostos da perspectiva do Renascimento (BAUDRY, 1983). Essa noção de espaço é diferente daquela dos gregos, que permite múltiplos pontos de vista. Já na construção imagética renascentista há um espaço centrado, um ponto de fuga, ideia que continua no cinema, afirma o autor. Nas produções found footage, o aparato coloca-se à mostra, muitas vezes evidencia o fazer cinema e condiciona o olhar do espectador com mais ênfase do que nas obras que não têm essa característica. Há uma ruptura na construção da narrativa, porém isso não se traduz em uma maior liberdade para o espectador: o olhar é fortemente direcionado. A câmera assume a determinação de instrumento guia do que é visto e do que é sugerido (fora de campo). É possível perceber que essa ação tem sido a preponderante nesses filmes na hora de causar medo e tensão no público – é a câmera que dita as regras da narrativa. O que chama atenção é que nos filmes escolhidos para análise ao mesmo tempo em que tal característica inerente ao dispositivo se potencializa, os mecanismos de ilusão do cinema clássico são quebrados: atores olhando para a câmera, jump cuts, etc. Desta ambígua relação percebe-se que o “olhar sem corpo” de que fala Xavier (2003) adquire dimensões ainda mais amplas na experiência com a obra: “Na ficção cinematográfica, junto com a câmera, estou em toda parte e em nenhum lugar; em todos os cantos, ao lado das personagens, mas sem preencher espaço, sem ter presença reconhecida” (XAVIER, 2003, p. 37). O que se percebe é que o found footage não apenas guia de forma incisiva a visão do espectador, como não tem pudor em assumir isso. Evidenciar o aparato é tradição nas vanguardas cinematográficas, mas nas produções de gênero tal opção não parecia tão frequente, pelo menos até as realizações de horror dos últimos anos. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Los géneros cinematográficos. Barcelona: Paidós, 2000.
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