ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Identificação e projeção: a quebra de estereótipos no filme “Bem-vindo |
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Autor | Eliane de Oliveira |
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Resumo Expandido | Estereotipo, conforme Bhabha (1998), é uma forma fixa e simplificada de representação. Ao mesmo tempo em que o estereotipo é, de certa forma, necessário, pois é um fator de segurança frente ao desconhecido, é também uma forma de controle social, pois estigmatiza, hierarquiza e classifica. Ao excluir sua constituição discursiva e ideológica (SHOHAT & STAM, 2006) apresenta-se como elemento natural. O cinema, como parte de um continuum discursivo, se alimenta dessas representações e as realimenta, mas pode também trazer outras possibilidades e contribuir para perturbar o já-dito e revelar outros horizontes de representação. Um filme, como produto de sua época, diz muito sobre suas condições de produção, não somente técnicas, mas também políticas e sociais. Para Kracauer apud Stam (2003) os filmes conseguem refletir a psique nacional porque (1) não são produções individuais, mas coletivas e (2) têm como alvo e mobilizam uma audiência de massa, não por meio de temas ou discursos explícitos, mas nos desejos implícitos, inconscientes, ocultos, não verbalizados, explorando uma outra espécie de mimese social, percebendo a historicidade da própria forma como figurativa de situações sociais.
”Bem-vindo” (Philipe Lioret, França 2009) é a história de um jovem imigrante iraquiano, Bilal, que está na França tentando chegar à Inglaterra para reencontrar a namorada e jogar futebol. Enquanto busca meios de fazer a travessia do Canal da Mancha ele conhece Simon, um cidadão francês que vive em Calais e parece desconhecer que esta cidade portuária abriga centenas de imigrantes. Esta narrativa apresenta discussões sobre a presença do outro e os questionamentos que ela suscita. Mostra também como a França tem lidado com a imigração, principalmente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 pelos Estados Unidos, e as consequências da invasão ao Iraque e ao Afeganistão. Para este trabalho selecionamos três cenas apresentadas no filme: 1)Simon e sua ex-mulher, Marion, estão em um supermercado e imigrantes são impedidos de entrar; 2) um vizinho de Simon implica porque ele abrigou imigrantes; 3)Simon conversa com Marion em um café. A partir dessas três situações temáticas selecionadas buscamos identificar aspectos que distanciam esta obra de representações padronizadas da imigração. Para isso, utilizamos o conceito de identificação-projeção de Edgar Morin (1970). Para ele, a projeção é um processo universal e multiforme. As nossas necessidades, aspirações, desejos, obsessões, receios, projetam-se, não só no vácuo em sonhos e imaginação, mas também sobre todas as coisas e todos os seres. Na identificação, o sujeito, em vez de se projetar no outro mundo, absorve-o. Assim, projeção e identificação se encontram interligadas no seio de um complexo global. Além disso, é por meio desta identificação que estruturas binárias classificatórias e hierarquizantes como nós/eles são superadas (BYSTRINA, 1995). Assim como Shohat & Stam (2006) entendemos que embora filmes sejam representações, isso não os impede de ter efeitos reais sobre o mundo. Dessa forma, o cinema insere-se em uma luta maior na disputada por significados e desconstrução de discursos ideológicos. Bem-vindo ao apresentar uma outra possibilidade de identificação e projeção aponta para novas perspectivas. |
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Bibliografia | BHABHA, Homi K. O local da cultura.. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
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