ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A história, a palavra e o vivido no cinema de Pierre Perrault |
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Autor | Marcius Freire |
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Resumo Expandido | Para o historiador Marc Bloch, “os fatos históricos são, essencialmente, fatos psicológicos” (Bloch, 2001: 157). Explicitando de maneira mais precisa o que são estes últimos, Jacques le Goff propõe que a história das mentalidades “‘se situa em um ponto de conjunção do individual com o coletivo, da longa duração com o quotidiano, do inconsciente com o intencional, do estrutural com o conjuntural, do marginal com o general’ ou, sendo ainda mais explícito, advertia que se trata de uma História ‘não dos fenômenos objetivos, mas da representação desses fenômenos’ e que a história das mentalidades ‘se alimenta naturalmente dos documentos do imaginário’” (Monterde, 2001: 42).
Tais preceitos rompem com os cânones da história factual e abrem caminho para uma nova abordagem do passado naquilo que passou a ser denominado de “Nova História”. De par com o ambiente assim criado, uma consequente e natural mudança no conceito de fonte histórica acontece, pois, como bem dizia o já citado Le Goff “todas as mudanças profundas na metodologia histórica são acompanhadas de uma transformação importante da documentação”. E não poderia ser diferente, já que os “documentos do imaginário” que caracterizariam o insumo fundamental da história das mentalidades não estariam mais abrigados unicamente nos documentos oficiais acantonados em arquivos públicos e bibliotecas. Doravante, qualquer artefato produzido pelos indivíduos de uma determinada sociedade era passível de se tornar um veículo de transporte ao passado. Mesmo tendo demorado a se tornar, ele também, um desses “documentos do imaginário”, o artefato fílmico vai encontrar o seu lugar dentre estes últimos. E um dos pioneiros nessa apropriação pela disciplina das imagens animadas foi o francês Marc Ferro. Suas incursões pelos meandros desse terreno até então pouco conhecido foram feitas nas páginas da revista Annales d'histoire économique et sociale, porta voz do grupo que lançou as bases da Nova História. Munidos do instrumental teórico/metodológico construído por Ferro e alguns de seus principais êmulos, buscaremos, nesta comunicação, explorar certos aspectos da história do Quebec tomando como fonte de informação alguns filmes de Pierre Perrault. A vasta obra desse grande documentarista é contemporânea dos principais movimentos que, no começo dos anos 1960, mudaram a história do filme de não-ficção. Com efeito, quando, após ter esboçado com Jaguar, Moi, um Noir e La pyramide humaine os contornos mais nítidos de uma nova estratégia de contato com o “Outro”, Jean Rouch realiza Chronique d’un été (1960) em parceria com Edgar Morin, nascia o “Cinéma Vérité”. Nos Estados Unidos, Robert Drew realiza Primary dando início à produção de toda uma série de filmes que farão parte do assim denominado “Direct Cinema”. Enquanto isso, no Canadá, através do ONF - Office National du Film, cineastas como Michel Brault e Pierre Perrault, armados dos mesmos recursos técnicos – som sincronizado e câmeras leves – se lançam na mesma aventura que permitiu a eclosão dos dois movimentos anteriormente citados. Conforme ressalta Michel Marie, “a carreira de Perrault cineasta começa no fim dos anos 50, com a série Au pays de Neufve-France (1959-1960), mas ela dá uma virada radical com o seu primeiro longa-metragem, co-realizado com Michel Brault em 1963, (Pour la suíte du monde)” (Marie, 2012: 14). Para muitos, Perrault é a expressão mais acabada do documentário canadense. Ferrenho defensor da língua e da cultura quebequenses, graças ao suporte do ONF sua extensa produção vai explorar, minuciosa e pacientemente, as entranhas de sua província natal. O objetivo desta apresentação é explorar a história, a palavra e o vivido no cinema de Pierre Perrault, buscando demonstrar sua ancoragem no passado e no presente do Quebec. |
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Bibliografia | Bloch, Marc (2001), Apologia da história ou o ofício de historiador, Rio de janeiro: Jorge Zahar.
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