ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | AS AMOROSAS: O FILME POLÍTICO DE WALTER HUGO KHOURI |
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Autor | Helena Stigger |
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Resumo Expandido | É bastante conhecida a relação entre o Cinema Novo com a política, em especial, com a representação da Ditadura Militar. Esse elo é tão solido que atualmente ainda temos a tendência de comparar filmes brasileiros atuais de cunho mais político e social com os que eram produzidos nas décadas de 1960 e 1970 pelos cinemanovistas. Por assim dizer, o Cinema Novo se caracterizava por um grupo de cineastas que publicamente afirmavam a intenção de fazer cinema político. Portanto é a partir dessa observação que gostaríamos de sublimar como a força desse cinema pode ter ofuscado o filme de outros cineastas, pois o movimento dos cinemanovistas em certa medida, tornou-se esse parâmetro inatingível. Sendo assim, ecos dessa influência refletem tanto nas produções mais recentes do cinema nacional como nos próprios filmes da época, encobrindo à essência política de diversas obras, como o filme de Khouri, As amorosas.
Khouri manteve-se fiel ao seu cinema intimista, seus personagens assumem uma complexidade que reconhecemos no sofrimento das paixões, tédios e, principalmente, com o peso da existência humana. Posto dessa maneira, para um espectador distraído, esses filmes não se caracterizam como uma obra política e como agravante, Khouri não escrevia ensaios na defesa de um cinema político. Por outro lado, o Cinema Novo marcava um posicionamento cada vez mais comprometido com a política. No início da década de 60, o discurso entre os cinemanovistas era a dicotomia entre pobres e ricos, o que podemos conferir em filmes como Os fuzis, Cinco Vezes Favela, entre outros. Os ricos são pessoas vazias que só se interessavam com seu próprio bem estar. Mas frustrado a esperança de transformação social traída pelo golpe militar, o Cinema Novo viu-se obrigado a focar o universo do próprio cineasta, ou seja, começou a criar e a representar jovens da classe média. Essa é uma das transformações mais significativas para o estudo desse trabalho, pois é a partir da mudança de orientação temática que podemos dialogar com o filme de Walter Hugo Khouri. Para a realização dessa tarefa, propomos um contraponto com um filme de Paulo César Saraceni, O desafio. Em O desafio o protagonista se chama Marcelo. Ele está desanimado, pois sofre com o fracasso da evolução social do país com a deposição do presidente João Goulart e o Golpe Militar de 1964. Este estado de desânimo o impede de se relacionar com a amante, Ada. Ele se sente impotente diante da nova configuração política do país. Ada, por outro lado, pensa em largar o marido para viver com o amante. Através desse casal de personagens temos a representação dos dois temas do filme: a impotência diante do golpe militar e a impossibilidade de reconciliação entre o amor e a revolução. Em As Amorosas, o personagem que também se chama Marcelo, é um jovem universitário de classe média que está desempregado e não tem dedicação aos estudos. Marcelo mantém um relacionamento simultaneamente com Marta e com Ana, essa última, uma estudante universitária de esquerda. A personalidade “vulgar” de Marta é apresentada no filme pelas suas atitudes, como o retorno para casa embriagada, e o comportamento promíscuo é sugerido na sua relação com colegas de trabalho. Como contraponto, Ana é uma estudante universitária que participa dos diretórios acadêmicos, em algum momento da narrativa, Marcelo diz à irmã que acha Ana chata. Dentro desse panorama, o protagonista não se deslumbra nem pela perspectiva do milagre econômico, representado na figura de Marta, nem pelos ideais compartilhados por intelectuais de esquerda, visto na personagem Ana. Portanto, sem vislumbrar um horizonte, a narrativa sugere que Marcelo sofre do mesmo desânimo que o personagem de Saraceni. Compreendendo as semelhanças entre os personagens, cabe agora mostrar que tanto As Amorosas como O desafio, realizadas no contexto do golpe, possuem a particularidade de registrar o espírito da época e, como testemunhos, elas são políticas. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Os jovens paulistas. In: O desafio do cinema – a política do Estado e a política de autores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
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