ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O concurso de beleza fotogênica da Fox Film no Brasil e o estereótipo da latinidade |
|
Autor | Isabella Regina Oliveira Goulart |
|
Resumo Expandido | As bases do concurso de beleza fotogênica da Fox Film, que foi noticiado por nossas revistas e jornais em 1926-1927, tinham como “requisitos essenciais” que a moça e o rapaz fossem “brancos”, “de sangue latino”. As condições para a promessa do estúdio norte-americano de abrir as portas da glória para dois brasileiros são aparentemente simples, porém, racializantes. Elas revelam os regimes de visibilidade, assinalados por estereótipos e estigmas, veiculados nos processos de caracterização de grupos nacionais e étnico-raciais na construção da narrativa hollywoodiana. Para Robert Stam e Ella Shohat (2006), enquanto a América Latina reconheceu sua formação continental mestiça e as discussões sobre identidade nacional no México, no Caribe ou no Brasil (para pensadores como Mário de Andrade, Paulo Prado e Gilberto Freyre) tiveram como premissa a multiplicidade racial, os Estados Unidos, em grande parte, resistiram ao reconhecimento de que a cultura norte-americana também fosse mestiça, miscigenada, híbrida, fundamentando sua visão sobre a identidade nacional em uma “brancura não declarada, mas que não deixou de ser normativa” (SHOHAT; STAM, 2006, p. 348). Assim, esses autores falam em uma “nação americana hegemonicamente imaginada” (idem, ibidem, p. 323), de bases eurocêntricas, que dominou a narrativa-mestra das produções hollywoodianas.
Antonio Pedro Tota (2000) observa que o cinema, acima de qualquer outro meio moderno de comunicação de massa, divulgou o American way of life e que os elementos mais importantes da ideologia do americanismo – a democracia, a liberdade e os direitos individuais (que estão declarados na Constituição norte-americana), o progressivismo, aliado ao tradicionalismo – foram tracejados na primeira metade do século XX. Mas ele sublinha que “tudo, na verdade, só tinha validade para uma América de brancos, fundamentalistas religiosos, anglo-saxões, anti-comunistas e imperialistas apaixonados” (idem, ibidem, p. 20). Tomaz Tadeu da Silva (2000) chama a atenção para o apelo a mitos fundadores na fixação de identidades nacionais e ao conceito de comunidades imaginadas de Benedith Anderson. As identidades nacionais funcionam, em grande parte, por meio de comunidades que precisam ser inventadas, imaginadas, pois não há nenhuma comunidade natural em torno da qual as pessoas que constituem um agrupamento nacional possam se reunir. Para tanto, é preciso criar laços imaginários para “ligar” indivíduos isolados, que, sem eles, não teriam qualquer “sentimento” de possuírem algo em comum. Assim, é essencial a construção de símbolos nacionais. Entre hinos, bandeiras e outros símbolos, destacam-se os “mitos fundadores”, que remetem a um momento crucial do passado, em que um acontecimento edificante, executado por uma figura heróica, estabeleceu as bases da suposta identidade nacional. De acordo com Silva, “a narrativa fundadora funciona para dar à identidade nacional a liga sentimental e afetiva que lhe garante uma certa estabilidade e fixação, sem as quais ela não teria a mesma e necessária eficácia” (p. 85). Stam e Shohat analisam como a dominação patriarcal branca nos Estados Unidos foi velada “em uma linguagem falsamente universalista, naturalizando o poder das instituições e identidades dos homens brancos” (p. 313) e como isso está evidenciado no cinema de Hollywood através de um multiculturalismo reprimido, que ocultou ou camuflou a presença de outros grupos que foram constitutivos da experiência histórica norte-americana. Este mito de fundação monocultural foi construído para americanizar os próprios Estados Unidos e, então, o resto da América (TOTA, op. cit.). A partir destas observações, tentaremos compreender aqui o que era ser “branco” e “latino” para Hollywood em 1926. Este discurso da brancura, de uma diversidade reprimida e não tolerada, está evidente nas bases do concurso da Fox, que dizia aos brasileiros que o sonho da glória em Hollywood era possível... Para os brasileiros que se encaixassem naquele padrão. |
|
Bibliografia | RAMÍREZ BERG, Charles. “A crash course on Hollywood’s Latino imagery”. In: _____. Latino images in film: Stereotypes, subversion, and resistance. Austin: UTexas Press, 2002
|