ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A trajetória de Jairo Ferreira |
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Autor | Renato Pannacci |
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Resumo Expandido | Nascido em São Paulo em 24 agosto de 1945, Jairo Ferreira iniciou suas atividades ligadas ao cinema militando no cineclube do Centro Dom Vital, no qual assumiu o papel de coordenador em 1964. Cineclube de orientação católica, o Dom Vital teve fundamental importância na cultura cinematográfica da cidade de São Paulo.
Em 1966 Jairo se inicia na crítica cinematográfica assumindo a coluna “Cinema" do jornal São Paulo Shimbun, um dos principais diários da colônia japonesa no bairro da Liberdade. A Liberdade e seus cinemas eram pontos de encontro dos jovens cineastas e entusiastas do cinema japonês, e Jairo escreve inicialmente sobre os lançamentos de filmes japoneses nas salas do bairro. É no ano de 1968 que uma geração de jovens cineastas que se reunia em torno da Escola Superior de Cinema São Luís passa a frequentar a Boca do Lixo em busca de viabilizar a realização de seus primeiros filmes nas produtoras locais. Localizada na região central de São Paulo, próxima às Estação da Luz e Júlio Prestes, a Boca abrigou escritórios de distribuidoras e produtoras de filmes desde a primeira metade do século XX, já que a proximidade das estações facilitava o envio de cópias da capital para o interior do estado através das linhas de trem. A convivência de Jairo no meio cinematográfica da Boca do Lixo faz com que comece a acompanhar o surgimento e as primeiras produções do chamado Cinema Marginal paulista em suas críticas no São Paulo Shimbun. Como conhecia bem aquele meio cinematográfico e participava da realização de diversos filmes, estava bem informado sobre os projetos e as filmagens em andamento, e consequentemente noticiava muito dos bastidores e acontecimentos da Boca em suas críticas, espécies de crônicas daquela produção. Em 1973 Jairo inicia a realização de seus filmes, legítimos exercícios de liberdade cinematográfica e da linguagem “de invenção” que tanto prezava. São cinco curtas: O guru e os guris (1973), Ecos caóticos (1975), O ataque das araras (1975), Antes que eu me esqueça (1977), Nem verdade nem mentira (1979); um média, Horror Palace Hotel (1978); e dois longas, O vampiro da cinemateca (1977) e O insigne ficante (1980). Tanto em seus filmes como em seus textos, Jairo se utiliza de uma estética de colagem, se aproveitando do que outros autores filmaram e escreveram para criar / inventar novos sentidos e significações. Dentre suas principais influências enquanto cineasta e pensador livre de cinema estão dois dos mais relevantes movimentos de vanguarda da arte brasileira: a Antropofagia Cultural de Oswald de Andrade e o Concretismo dos irmãos Campos e Décio Pignatari. Na Folha de S. Paulo Jairo Ferreira trabalha como crítico de 1976 até 1980. Nesse período escreve muitas vezes sobre o cinema brasileiro, acompanhando lançamentos e a continuidade da carreira de cineastas do grupo Marginal. Fazia um tipo de trabalho que não teria qualquer espaço na grande imprensa nos dias de hoje. Talvez a mais significativa e relevante contribuição para o pensamento sobre o cinema brasileiro de sua carreira, o livro Cinema de Invenção é publicado em 1986. No livro, escreve sobre os filmes e cineastas brasileiros que qualificou como experimentais. Considerando o desgaste de termos como “experimental” e “vanguarda”, o autor buscou várias definições que dessem conta do tipo de cinema tratado no livro, até chegar ao termo “invenção”. Jairo transpõe as “categorias de escritores” criadas pelo poeta e teórico literário norte-americano Ezra Pound no livro ABC da Literatura do âmbito da análise literária para o âmbito da análise cinematográfica; “Inventores: homens que descobriram um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo”. O livro não apenas trata do cinema experimental brasileiro, mas é também escrito e organizado de maneira experimental, como praticamente tudo que Jairo escreveu e filmou. |
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Bibliografia | COELHO, Renato (org.). Mostra Jairo Ferreira: Cinema de Invenção. São Paulo: CCBB, 2012.
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