ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Jane Austen à brasileira - descobrindo uma comunidade nacional de janeites |
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Autor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | Jane Austen era escritora e antes da terceira década do século XIX todos os seus romances já haviam sido publicados. Apesar de nunca ter conhecido o cinema, ela é uma das autoras mais adaptadas da contemporaneidade (Solender, 2002). Em 1995, inicia-se a fase de maior criatividade acerca da sua obra: são mais de quinze produções audiovisuais, além de inúmeros livros baseados na sua vida e na sua obra.
Neste trabalho, propomos que o diferencial do fenômeno recente de adaptações e apropriações de Austen se dá, principalmente, devido ao engajamento de uma crescente comunidade de leitores e espectadores com padrões bastante específicos de desejos e ambições - os fãs. Propomos, ainda, que a construção da relação destes sujeitos com a obra se dá, em grande parte, através do cinema, seja no papel de espectador ou de produtor. Apesar – ou, talvez, por causa – da pouca informação disponível, os fãs de Austen são alguns dos mais apaixonados. (Lynch, 2005) Eles anseiam novidades sobre sua vida, detalhes sobre sua obra e se encontram, vestidos a caráter, para debates sobre seus personagens favoritos. Neste contexto, considerando um questionamento levantado no Seminário de Recepção do SOCINE 2012, iniciamos uma pesquisa em busca do perfil deste fã no Brasil: suas origens e especificidades. Para essa construção, desenvolvemos um questionário on-line, planejado de forma a elucidar as questões pertinentes ao cenário nacional de consumo e produção da obra de Austen, priorizando o papel do fã – leitor, espectador e produtor – e sua relação com o cinema. As mais de duzentas respostas apontam para uma expressiva comunidade nacional de fãs de Jane Austen, dedicada ao consumo, ao estudo e à produção de conteúdo relacionado à autora. Sujeitos que não só estabeleceram uma íntima relação com estas obras literárias e audiovisuais, mas também entre si. Um dos resultados mais interessantes pode ser avaliado na relação destes fãs com o audiovisual: 69% dos participantes iniciaram sua relação com a autora e sua obra através do audiovisual (considerando séries, filmes televisivos e cinematográficos), 52% especificamente através do cinema. É importante enfatizar, também, a sua postura quanto a produtividade: 16% são produtores e 60% consomem produtos nacionais produzidos por fãs. Quando tratamos especificamente dos fãs de Jane Austen, críticos costumam nomeá-lo de Janeite. O termo foi usado pela primeira vez em 1894 pelo crítico literário inglês George Saintsbury (1845-1933) em uma introdução que escreveu à uma nova edição de Orgulho e Preconceito (Lynch, 2005). Conhecido por ser um dos primeiros entusiastas de Austen, o nome que Sainstbury deu aos fãs de Jane Austen os definiria por décadas. A relação que o fã constrói com seu objeto - seja um livro, um filme, um autor – é de extrema profundidade: ele dedica parte de sua vida a ser especialista em seu objeto de idolatria, não se constrange ao admitir seu conhecimento e se orgulha da sua dedicação. O acesso às formas de produção e às mídias, no século XX, instrumentalizou o fã, enquanto que os Estudos Culturais deram voz a esse sujeito: “Henry Jenkins se baseia na obra de De Certeau, para desenvolver a ideia de que o fã é um produtor que se apropria dos textos que recebe para criar novos sentidos e produtos. Influenciado pelas reflexões dos Estudos Culturais, foi um dos primeiros a dizer que seria um erro pensar nos fãs exclusivamente em termos de consumo (...)”. (Curi, 2010, p.31) A urgência de se expressar, de expor sua perspectiva e de corrigir o que possa vir a considerar como erros ou lacunas nas adaptações recentes, são características pulsantes nos fãs brasileiros. Quando não se sentem representados pelas apropriações, fazem as suas. E, mais importante, as compartilham nesta comunidade de relações tão estreitas. A constante troca entre os fãs de diferentes origens e perspectivas enriquece o universo de Austen, estando eles nas grandes produções, em curtas caseiros ou em produções on-line. |
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Bibliografia | CURI, Pedro. (2010). Fan-Films: da produção caseira a um cinema especializado.Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense
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