ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O Cinema e o Som Imaginário |
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Autor | Nílbio Thé |
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Resumo Expandido | Com o advento do cinema, passamos a enxergar o mundo com outros olhos e, também, a ouvir com outros ouvidos. Todavia, apesar de sua rápida e vertiginosa difusão, no campo teórico não houve tanto consenso acerca desta nova mídia. O objetivo aqui é investigar a relação sinestésica entre o espectador e o cinema silencioso.
Andrew (2002) é claro acerca do primeiro grande embate conceitual entre as primeiras correntes teóricas do cinema: a realista, que via o cinema como representação direta da realidade e a formativa, que via o cinema como meio artístico da imaginação. Nesta última, ele até poderia partir da realidade, mas fluía pela mente e imaginação de seu público e realizadores em direção ao mundo onírico. Dentre eles, Münsterberg (1916) acreditava ser o filme aquilo que se passava na mente do espectador ao assistir àquilo projetado em tela, e não a projeção em si. Não ter cores ou som seria, portanto, algo bom, pois forçava a mente a “completar” aquilo que era apresentado com a imaginação, da mesma forma que seus realizadores buscavam aprimoramento artístico e criativo em suas realizações simulando cores, cheiros... Ou o som. Daí nossa hipótese, que chamaremos “som imaginário”, que são os sons imaginados ou esperados pelo espectador no sentido de consolidar a diegese da obra fílmica. O advento do som propriamente dito na película foi, inicialmente, mal visto pelos formativos por forçar o cinema a prender-se à realidade. Pelos mesmos motivos, contudo, foi bem quisto pelos realistas. Mas existia consenso de que, mesmo que o cinema silencioso fosse um potencial facilitador da criatividade, o som nas salas exibidoras era fundamental. Afinal, o ünwelt humano é calcado principalmente na visão e audição. Era imprescindível, por conseguinte, que houvesse, mesmo nos filmes silenciosos, a música. Daí muitas salas terem pianos ou seus próprios músicos que improvisavam temas para dar ritmo à trama projetada. As mais suntuosas tinham fosso de orquestra que executavam partituras pré-determinadas pelos realizadores e distribuidores dos filmes, além de terem propriedades acústicas quase tão boas quanto alguns teatros e salas de concerto. Da Costa (2008) recorda ainda que o cintesocópio, precursor do cinema, foi criado pelo mesmo Thomas Edison criador do fonógrafo, mostrando como os avanços técnicos corriam a passos largos tanto para a visão como para a audição sendo natural que eles se encontrassem mais adiante. Mas antes disto podemos pensar que o cinema nunca foi “mudo” de fato, já que, genericamente, a música era sua base rítmica. E, não à toa, Chion (2008) afirma que som é movimento (pois também é tempo). E considerando as propriedades narrativas da música, muito exploradas a partir dos poemas sinfônicos do século XIX, a parceria entre as duas mídias seria ainda muito frutífera. Mas o som ambiente, inerente às películas atuais, ainda não existia. Pelo menos do ponto de vista técnico. Sob esta perspectiva, poder-se-ia justificar que o som também era imaginado. O musical Cantando na Chuva (1952) de Stanley Donan mostra bem o choque entre os sons imaginados pelos espectadores do cinema mudo e os sons emitidos pelo próprio filme quando do advento do som. Era inconcebível um belo elenco com vozes feias ou desafinadas. Sinestesicamente o som deveria ser tão agradável quanto a imagem. Tal período de embate foi revisitado novamente mais recentemente em O Artista (2011). Se o som não fosse imaginado e idealizado pelo espectador não haveria surpresas com os diferentes tipos de vozes (reais) que atores ou atrizes pudessem ter. Daí muitas vezes a necessidade de processos de acusmatização semiótica (RODRÍGUEZ, 2006), cada vez mais refinados, onde um som é associado a uma imagem determinada, reforçando ou criando novas significações. Concluímos que foi também a partir do som imaginário que se estabeleceram as reais necessidades sonoras do cinema além de uma gramática e uma técnica sonora que seriam, depois, imprescindíveis ao cinema. |
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Bibliografia | ANDREW,J. Dudley. As principais teorias do cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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