ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O contemporâneo desafiado:a rede de temporalidades em Cordel Encantado |
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Autor | Maria Isabel Orofino |
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Resumo Expandido | Ao longo dos últimos 50 anos a teledramaturgia brasileira tem merecido atenção pela quantidade de títulos que alcançam ampla repercussão popular e de crítica. E nos anos recentes, com uma produção industrial de porte, a Rede Globo de Televisão parece continuar confirmando o gosto popular pela teleficção seriada produzida no Brasil com um grande número de novelas celebradas tanto pela crítica quanto pelo público, como por exemplo: Avenida Brasil; Cheias de Charme; Cordel Encantado e Lado a lado. Mesmo que a telenovela brasileira tenha ocupado um grande espaço na vida cultural e social dos brasileiros, no meio acadêmico ela ainda é motivo de desconfiança para muitos estudiosos do audiovisual. No Brasil as reflexões partem muito mais da teoria da cultura e do popular do que da teoria do audiovisual, especificamente.
Em diálogo com a teoria da arte e da cultura o artigo identifica a telenovela como espaço para a observação de uma reflexividade estética (Lash,1997) localizando algumas operações que apontem “rupturas” com as formas mais conservadoras de narrar. A partir da análise de Cordel Encantado (Rede Globo de Televisão; de Telma Guedes e Duca Rachid; direção geral de Amora Mautner e veiculada de 11/04/11 a 24/09/11) discute-se a telenovela das 6h enquanto um espaço de mediação, experimentação e formação cultural, mesmo estando a produção inserida em dinâmicas que estejam pautadas pelos interesses da indústria cultural. O debate se ancora em uma teorização que foca no necessário deslocamento do lugar da telenovela nas reflexões sobre audiovisual no Brasil, e assim dialoga com autores que identificam rupturas em relação às convenções pautadas pelas demandas da produção comercial e da indústria cultural. Nesta perspectiva recorre-se a aportes que se complementam como as contribuições do materialismo cultural (Williams,1979;1992) e da teoria das mediações (Martín-Barbero, 1997). Isto nos permite pensar esta “diacronia entre contemporâneos” representada na telenovela Cordel Encantado como forma de mediação das descontinuidades históricas que demarcam a experiência concreta na vida social. Assim, o artigo apresenta uma reflexão sobre a costura de diferentes temporalidades, marcadamente diacrônicas, em um entrelaçamento temporal que promove um diálogo fluido entre o imaginário medieval europeu da estética armorial nordestina com a ambiência cultural do sertão nos tempos do cangaço. A trama narrativa é tecida por duas linhas de tempo absolutamente díspares e distantes mas fortemente ancoradas no imaginário do nordeste do Brasil. Como dois fios residuais (Williams, 1979;1992) o armorial e o cangaço, ambos projetados na cultura da atualidade, a narrativa promove a sobreposição e articulação de uma “contemporaneidade diegética” plural e diacrônica. O que se dá não apenas pela estrutura da narrativa (Guedes e Rachid), mas sobretudo pelo uso reflexivo das técnicas e na materialidade da produção (Mautner). Esta articulação de diferentes períodos históricos permite uma trans-temporalidade, conceito que demarca um movimento estético “emergente” e que permite uma reflexão em torno tanto do conceito de “subversão cronotópica”, as quais desrespeitam as normas de diegese estabelecidas pela narrativa clássica (Gatti, 2013) quanto da identificação dos elementos residuais, dominantes e emergentes na produção cultural (Williams,1979;1992). Trata-se de um recurso facilmente observável em Maria Antonieta (Sofia Copola, 2006), por exemplo, e que tem sido amplamente utilizado por diretores atuais, o qual promove uma “desobediência” em relação à correspondência direta entre (1) tanto os códigos da linguagem audiovisual (texto, imagem e som) quanto (2) as representações da materialidade da cultura com o uso reflexivo dos elementos de composição da imagem (ritmo, luz, interpretação, figurino e arte, por exemplo). |
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Bibliografia | GATTI, José. Proteus: morte e significação (mimeo) 2013.
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