ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Afetos e (des)encontros em ondas sonoras no filme de viagem brasileiro |
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Autor | Alessandra Soares Brandão |
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Resumo Expandido | Esta proposta desdobra-se de uma pesquisa sobre os filmes de viagem na América Latina realizada anteriormente (Revista Rebeca ano 1, n. 1) já em articulação com as perspectivas teóricas iniciadas no Seminário Temático Imagens e Afetos (SOCINE 2012). Busco, agora, uma nova mirada sobre as narrativas de trânsito e deslocamento, que se estabelece no recorte das trilhas sonoras musicais e na ênfase nas relações afetivas que a música - seja ela diegética ou extradiegética - produz nestes filmes. Aqui, o foco é dado no contexto específico de produções brasileiras do século XXI em filmes como O caminho das nuvens (2003), Cinema, aspirinas e urubus (2005), O céu de Suely (2006), e Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), entre outros.
O que interessa pensar a partir destes filmes são os modos como a música constrói laços afetivos que se articulam em tênue linha de relação com as trajetórias das personagens, reafirmando ou tensionando suas passagens ao mesmo tempo em que (re)valoriza suas potências de existir ou de agir, para lembrar a expressão de Baruch Spinoza (2002). Assim, o que pretendo analisar é como a trilha sonora musical estabelece um jogo de intensidades afetivas que ora se dá em sintonia com a imagem e o entorno dos personagens, ora aflora da dissonância entre o que se vê e o que se ouve, no interstício do dito e do não dito, do visto e do ouvido, da palavra dita ou cantada e da imagem que a ela se funde. Nesse sentido, cabe pensar, com Deleuze, que aquilo que é propriamente uma ideia de cinema surge exatamente na disjunção entre o visual e o sonoro (“O ato de Criação”). No caso dos filmes de viagem a que me refiro aqui, a utilização de canções populares da música brasileira em seus mais diversos gêneros - samba-canção, forró, música romântica, entre outros - e, muitas vezes, já conhecidas do público em geral, antecipa afetos que emanam da própria trajetória da canções no espaço extra-fílmico. Há, portanto, um jogo sensório que se anuncia já na popularidade da música e que se acentua no “novo” que, nesse caso, constitui sua ressignificação na construção audiovisual. Afeto, afinal, como nos diz Elena del Rio, ““é precisamente uma inscrição do fora no dentro, do novo e imprevisível no familiar” (2008: 11). São as modulações da construção fílmica, portanto, que reinventam a dimensão sensória dessas canções populares, multiplicando-se na partilha do sensível e nas (re)negociações que cada filme engendra a partir do uso que faz dessas canções. Assim, proponho pensar como a música, nos filmes aqui citados, articulam (des)encontros entre sensíveis e promovem atravessamentos transculturais - e mesmo transnacionais - que pontencializam as relações afetivas entre as imagens e as canções populares que a embalam. Não se trata de analisar as trilhas musicais como acompanhamento ou como construções climáticas para os eventos narrativos, mas de pensá-las em sua dimensão afetiva, relacionadas que estão aos devires e às intensidades que são engendrados na tessitura da construção audiovisual. Trata-se de pensar, pois, como a música (re)valoriza o trânsito dos personagens ao mesmo tempo em que nos lança no abismo dos afetos. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro, não. Rio de Janeiro: Record, 2002.
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