ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Estratégias narrativas do documentário animado autobiográfico |
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Autor | José Francisco Serafim |
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Resumo Expandido | Pretende-se com esta comunicação discutir uma modalidade ou subgênero do audiovisual bastante presente no cinema documentário na atualidade, a autobiografia, e mais precisamente aquela realizada com o processo de animação. Esta questão tem sido estudada na atualidade por pesquisadores que se preocupam não somente em definir o gênero, como também discutir elementos fundamentais para a compreensão desses novos produtos documentais no que tange à relação com a subjetividade, como também com as técnicas empregadas na animação (Ward, 2005; Martins, 2007; Serra, 2011; Souza, 2012 entre outros). Pretende-se abordar a questão do ponto de vista documental em obras que se apresentam como animações, ou como são atualmente denominadas, “documentários animados”. Nesse sentido, a pesquisadora Índia Mara Martins observa que “a proposta de pensar o documentário enquanto um processo dinâmico de virtualização/atualização é fundamental no contexto da produção de documentários que utilizam imagens e processos digitais, que incluem o documentário animado e o web documentário.” (MARTIS, 2007 : 92). A fim de problematizar esta questão, será analisado um filme realizado em 2012 que mescla animação, imagens de arquivo e imagens reais com o objetivo de narrar a história de uma criança sul-coreana adotada aos cinco anos de idade por uma família belga. Trata-se do filme Cor da pele: mel (Couleur de peau: miel, 2012) realizado pelo quadrinista Jung em colaboração com o cineasta Laurent Boulier. Será enfatizada na análise a questão da construção da memória através das estratégias fílmicas utilizadas pelos cineastas.
É importante enfatizar que a questão da animação no documentário não é recente. Já em 1918, Winsor McCay realizou um curto filme de dez minutos sobre o naufrágio do navio Lusitania (Sinking of the Lusitania). Devemos sublinhar que neste filme seminal observa-se a mistura de gêneros, pois assistimos no inicio do filme ao próprio McCay explicando para um colega o processo da animação, para em seguida assistirmos ao documentário animado mostrando o naufrágio do navio. Observa-se, nesse sentido, que tanto o documentário autobiográfico como a animação documental já estarão presentes desde praticamente o surgimento do cinema. Nos anos 2000 foram realizados três filmes de longa-metragem que podem ser considerados emblemáticos para a questão que nos interessa, e que ganharam repercussão mundial. Trata-se dos filmes Persépolis (2007) de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, Valsa com Bashir (2008) de Ari Folman, e o mais recente Cor da Pele: mel (2012). Deve-se observar que estes três filmes apresentam vários elementos em comum: as três obras são consideradas documentais; os três foram inicialmente lançados no formato livro de história em quadrinhos; as três obras foram adaptadas pelos seus criadores para o cinema; os três filmes relatam fatos do passado, ou seja, trabalha-se no resgate da memória dos personagens. Nesta comunicação será enfatizada a análise das estratégias de construção narrativa do filme Cor da pele: mel. Trata-se aqui de um documentário realizado predominantemente com o processo em animação sobre um tema autobiográfico que mescla tanto gêneros narrativos quanto formatos em sua elaboração. Através da análise dos elementos estruturantes da narrativa será discutida a filiação desse tipo de produto ao gênero documental e, sobretudo, de que forma são processadas as estratégias narrativas empregadas na construção da memória e da autorrepresentação. |
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Bibliografia | MARTINS, Índia Mara. Documentário animado: um novo projeto do cinema. In PENAFRIA, Manuela & MARTINS, Índia Mara (org.). Estéticas do Digital. Cinema e Tecnologia, Livros LABCOM, 2007, pp. 87-116.
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