ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Breaking Bad e seu mundo ficcional: notas preliminares de investigação |
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Autor | João Eduardo Silva de Araújo |
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Resumo Expandido | Neste trabalho, apresentamos uma pesquisa em andamento acerca de como é construído o universo ficcional do seriado americano Breaking Bad. A série acompanha Walter White (Bryan Cranston), um professor de química que no início da trama descobre-se com câncer terminal. Walter então procura o seu ex-aluno Jesse Pinkman (Aaron Paul), um traficante de metanfetamina, e resolve usar seus conhecimentos de químico para fabricar o produto e entrar para o comércio de drogas, inicialmente na esperança de não deixar a família desamparada após sua morte.
Para a realização desta pesquisa, assumimos, seguindo Eco (2006), que o conceito de universo ficcional se refere não apenas a espaços físicos imaginários, mas também a versões das cidades que habitamos conforme representadas em ficções. Assim, a despeito da maior parte dos estudos sobre universos ficcionais se debruçarem sobre mundos projetados por histórias que se passam em realidades alternativas, a abordagem de um seriado televisivo que se pretende realista, sendo ambientado em uma cidade que é uma versão de outra encontrada no mundo empírico, de modo algum se mostra um contrassenso. Ao contrário, a apreciação de como tal ilusão de realidade é criada pode se mostrar frutífera, a despeito de não ter sido suficientemente explorada. Além do modo como se constituem o ambiente e a atmosfera – aquilo a que Gumbrecht (2012) chama de Stimmung – deste seriado, pretendemos contemplar ainda a construção dos personagens e a contextura da trama, por entendermos que estes também são aspectos constituintes dos mundos ficcionais (ECO, 2008), bem como as estratégias empregadas tanto para fazer o espectador imergir naquele universo quanto para criar a ilusão de que aquele mundo é o nosso. Quanto à imersão, nota-se que a diferença entre imergir num mundo ficcional e em uma narrativa de não ficção é que embora as duas requeiram acomodação em um espaço narrativo, só a segunda experiência demanda um recentramento (recentering) da consciência do apreciador, que desloca sua mente para um universo regido por outras propriedades e habitado por indivíduos que não os do mundo que ele habita (RYAN, 2001). Indivíduos com os quais apreciadores podem até mesmo se relacionar, e a despeito dessas relações serem parassociais, ou seja, de mão-única e não-dialógicas, não deixam de envolver afeição (BUONANNO, 2008). Postula-se, então, que os mundos projetados por ficções são constructos textuais (DOLEŽEL, 1988) que o apreciador recupera a partir da obra, criando mapas e diagramas mentais com as localidades mencionadas, a cronologia dos eventos decorridos, as relações estabelecidas entre os personagens etc. (HERMAN, 2009). Universos construídos semioticamente nos quais o apreciador pode imergir ao recentrar sua consciência neles, e os modos como Breaking Bad convoca este recentramento e facilita ou dificulta esta imersão também vêm sendo observados. Aqui, cabe pontuar que a não ser pelas atuações naturalistas, os modos de narrar de Breaking Bad não seguem as convenções clássicas do realismo audiovisual. Uma câmera que se denuncia, episódios iniciados com videoclipes experimentais e uma música que chama atenção para si mesma são recorrentes neste seriado. Assim, ele se prova ainda um corpus privilegiado para entender como uma diegese realista – um universo ficcional que procura fingir ser o próprio mundo que o apreciador habita – pode ser estilisticamente construída de modo pouco relacionado com os padrões convencionais de narrações realistas sem estraçalhar a suspensão da descrença. Até agora, a desdramatização da violência, a ambientação rural árida fronteiriça com o México e a tridimensionalidade dos personagens já foram identificados como elementos fundamentais para a construção daquele mundo, mas o prosseguimento desta investigação pretende revelar outros preenchimentos basilares daquele universo, bem como investigar a fundo como a trama e a construção dos personagens e do ambiente se articulam para edificá-lo. |
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Bibliografia | BUONANNO, Milly. The age of television: Experience and theories. Bristol: Intellect, 2008.
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