ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A moral, a política e os efeitos de sentido na "recepção" cineclubista |
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Autor | Geovano Moreira Chaves |
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Resumo Expandido | Em meados do século passado, o cineclubismo de Belo Horizonte teve um destacado papel no meio cinematográfico brasileiro, sobretudo através das revistas de cinema produzidas e difundidas por seus integrantes. Exercendo a função de críticos, os filiados a este movimento e o respectivo público constituíram-se, respectivamente, em território nacional e no contexto supracitado, em uma das mais exemplares comunidades de interpretação fílmica, promotora de recepções cinéfilas que engendraram posturas morais e políticas com base em direcionamentos do olhar e da escrita acerca do cinema.
A respeito da noção de “comunidades de interpretação”, nos valemos dos argumentos de Antoine de Baecque, uma vez que este autor considera estas comunidades, relacionadas ao cinema, capazes de constituir grupos cinéfilos básicos, que podem passar, a título de exemplificação, por cineclubes, revistas ou igrejas, por meio de suas atitudes e de seus discursos e textos, formando “um senso comum que conferem densidade a cada momento específico da história do cinema”. (BAECQUE, 2010; 36). Neste sentido, destacamos que foram dois cineclubes, mais precisamente, o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC, 1951...), e o Clube de Cinema de Belo Horizonte (CCBH, 1959-1964), (o primeiro, partidário de um ideário mais engajado em posicionamentos políticos considerados “de esquerda”, e, o segundo, militante e divulgador das concepções de moral advindas de um projeto da Igreja Católica Romana para o cinema, iniciado nos EUA da década de 1920 e difundido para todo o alto clero católico pela encíclica papal Vigilant Cura de 1936) que processaram efeitos de sentido e de afetos e agitaram a comunidade cinematográfica da capital mineira, influenciando críticos, diretores, produtores e demais pessoas envolvidas com a atividade cinematográfica pelo país, como admitiram Paulo Emílio Salles Gomes e Glauber Rocha. No entanto, entendemos que uma análise mais profunda dos modos de recepção dos filmes exibidos por estes cineclubes, principalmente, por meio das críticas que se encontram nas páginas das revistas por eles produzidas, podem nos ajudar a compreender os ditames da noção de “recepção” em um contexto sócio-histórico específico, a saber, a relação da crítica de cinema e a militância moral e política acerca do “fato cinematográfico” no Brasil de meados do século XX. Cientes de que a recepção crítica tem sido reconhecida como fenômeno multiforme, faz-se necessário destacar que o CEC e o CCBH não se contentaram em manter suas atividades somente voltadas para a pura exibição e discussão de filmes; o propósito foi bem mais amplo. No CEC, se reuniam também adeptos do comunismo e do existencialismo sartreano, que usavam o espaço cineclubista para difundirem suas concepções políticas. No CCBH, por sua vez, reuniam-se militantes que primavam pela difusão de um cinema que estivesse de acordo com a moral católica, inclusive defendendo, a princípio, a cotação moral e a censura de alguns filmes que se mostravam contrários a este princípio. Visando atingir um público mais amplo, o CCBH promoveu também cursos de educadores cinematográficos, e os respectivos professores destes cursos, como os Padres Guido Logger, Edeimar Massote e Humberto Didonet, podem ser considerados, provavelmente, os mentores e fundadores do primeiro curso acadêmico de cinema no Brasil, na antiga Universidade Católica de Minas Gerais, na década de 1960. Contendo sínteses das idéias morais e políticas de seus integrantes, foram nas revistas produzidas sob os desígnios destes cineclubistas que encontramos os registros de seus “atos estéticos”, que associados a posicionamentos morais e políticos, estabeleceram concepções sobre filmes ideais a serem assistidos ou censurados pelo público em geral, ou até mesmo a serem usados como propaganda ideológica. |
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Bibliografia | . BUTRUCE, Débora. Cineclubismo no Brasil: esboço de uma história. IN: Acervo: revista do Arquivo Nacional. v. 16, n. 1 (jan/jun.2003). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.
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