ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Formas atuais de Realismo Cinematografico: Caché, Dez, Millenium Mambo |
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Autor | Nilson Assunção Alvarenga |
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Resumo Expandido | A pesquisa propõe, através de estudos de caso, uma revisitação da ideia de realismo cinematográfico encontrada em estratégias narrativas e estilísticas de certos diretores no contexto contemporâneo. Tais propostas podem ser vistas, no que se refere à experiência espectatorial implicada na narrativa e na decupagem, como abordagens atuais da concepção baziniana de “realismo cinematográfico”. Bazin observara uma tendência nítida, em sua época, no sentido de uma maior ambiguidade narrativa e de uma minimização da decupagem e, consequentemente, da montagem. Estes artifícios de linguagem foram apontados por Bazin como responsáveis por uma participação mais ativa do espectador em sua experiência do filme. Em parte pelo menos, as reflexões de Gilles Deleuze sobre o cinema podem ser lidas, quando se trata da conceituação da imagem tempo, como aprofundamento de certas noções bazinianas. Isto se lermos essa conceituação como dando ênfase - e nem tanto questionando como um todo - à relação imagem/pensamento, mais do que ao vínculo imagem/realidade. Assim, Deleuze buscara compreender os modos de pensamento envolvidos na maneira como a imagem é trabalhada de modo a propor uma experiência específica ao espectador. Nesse caminho, a lógica da imagem-tempo está ancorada em uma forma de pensamento que não se fecha, que mantém o espectador sendo estimulado a não concluir uma ideia, uma “verdade”, em relação a sua experiência diante do filme. Lendo dessa maneira, isto é, indo de Deleuze a Bazin e não o inverso, podemos desconectar, como, aliás, já havia feito implicitamente Bazin, a noção de “realismo” da noção de uma “correspondência com a realidade” (verdade). Aplicar tais concepções atualmente pode trazer novas perspectivas para um estudo da espectatorialidade no cinema, um estudo que leve em consideração não apenas aspectos mais visivelmente “cognitivos” (inferenciais, por exemplo, como aponta D. Bordwell), mas também o que, a partir de Deleuze e de outros autores contemporâneos (por exemplo, S. Shaviro), podemos chamar de dados afetivos da imagem. Por outro lado, a desvinculação das noções de realismo e de “correspondência com o real” (verdade), ajuda a abrir caminho para perceber as diferentes estratégias narrativas e de decupagem como formas de artifício próprias à “retórica realista”. Neste sentido, entendendo que não há apenas um realismo, mas diversos modos de expressão cinematográfica “realista”, o que era reconhecido pelo próprio Bazin, e, além disso, que cada época reinvindica sua própria concepção do que seja o realismo cinematográfico, podemos esboçar um breve – e aproximativo, incipiente e longe de completo - panorama de formas contemporâneas de realismo, implicando decisões específicas de narrativa e decupagem de cineastas contemporâneos, portanto diferentes “artifícios realistas”. Para tal esboço, gostaríamos de propor a existência de pelo menos três diferentes tipos contemporâneos de realismo cinematográfico a partir do estudo de caso de três autores e três filmes, a saber: o “realismo reflexivo” em Caché, de M. Haneke, apontando o papel das repetições de imagens em diferentes perspectivas e um austero distanciamento da câmera; o “realismo observacional” em Dez, de Abbas Kiarostami, apontando o papel desempenhado por uma câmera que, colocada dentro de um carro, não mais é “operada”, no momento mesmo da filmagem; e o “realismo de encenação” em Millenium Mambo, de Hou Hsiao Hsien, apontando não apenas o papel da encenação dos atores, mas também, e especialmente, a “encenação” da câmera, com mudanças constantes de posição e foco, constituindo um “desenho” da cena que vai além do plano-sequência típico do modernismo cinematográfico. Nestes três casos, encontramos, através de diferentes estratégias ou "artifícios" realistas, a busca de um modo de comunicação com o espectador em que se estimula a abertura do pensamento e não apenas uma "correspondência" com um suposto real pre-existente à imagem e ao som e à experiência deles. |
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Bibliografia | BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
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