ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Entre a convenção e a performance, novas possibilidades do retrato |
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Autor | Maria Teresa Ferreira Bastos |
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Resumo Expandido | No documentário Pina, dirigido por Wim Wenders (2011), o cineasta alemão incursiona pela tecnologia 3D e acaba por oferecer ao espectador uma rara oportunidade de experimentar em plenitude o movimento de corpos que trafegam não somente nos palcos, mas em espaços urbanos. Muito tem se discutido sobre o filme a partir da terceira dimensão, corriqueira para as super produções americanas de lutas, aventuras e animações, mas incomum para os documentários e mundo da arte. O foco desta comunicação, contudo, não está nas possibilidades imersivas (prós ou contras) do 3D, mas em como o cineasta alemão incursiona e esgarça os limites entre dança, cinema e fotografia, bem como proporciona o trânsito entre arte e vida, tanto da bailarina alemã Pina Bausch, fundadora da companhia de dança Tanztheater Wupperta, falecida aos 68 anos em 2009, como de seus integrantes. A motivação é se voltar para a análise e complexificação da estratégia do cineasta de isolar na tela, em proporções enormes, potencializadas pelo 3D, os rostos e os corpos dos bailarinos - o que nos permite fazer analogia com o gênero retrato - , que naquele momento performam espontaneamente para a câmera. Os depoimentos dos bailarinos da Companhia de Pina Bausch são comoventes. São como retratos que ganham vida sobretudo porque estão mudos, com apenas rostos diante da câmera e vozes em off, ou simplesmente o silêncio Eles olham, gesticulam, seduzem, instigam. Ficam diante de nós, ao nosso alcance, cada um com sua história, suas emoções, vivências. Cada um com seu gesto. Wenders, ao apontar a câmera “amorosa” para eles, torna-os livres. Das questões contemporâneas ao redor do gênero retrato, a ideia de performance encontra lugar central. O retrato contemporâneo menos que uma necessidade de identidade, e porque não dizer, menos que uma vocação biográfica, torna-se uma experiência de imagem. O resultado em imagem da cumplicidade do retratado e do artista, apontado pelos discursos da tradição da história da arte como necessariamente verdadeiro e real, emerge agora no limite da encenação e da performance. Assim como na literatura e na fotografia contemporâneas, o cinema também esgarça estas fronteiras entre ficção e realidade. Wim Wenders promove este encontro sutil a partir desses retratos , quando os bailarinos integrantes da companhia falam de sua relação com Pina, de suas experiências e percepções de vida na companhia da bailarina alemã. É quando esse fio tênue da ficção e do real se interpola. E, a partir do depoimento de cada um, torna-se possível compor uma imagem compósita de Pina, multifacetada, múltipla. Há raras imagens de Pina no filme que leva seu nome e que a homenageia, mas ela vive a partir dos depoimentos de seus bailarinos, do gesto de suas coreografias, no “ar” que imaginamos respirar com sua dança. A cidade invade a tela. Os bailarinos dançam a vida, que sempre foi a inspiração de Pina. E Wim Wenders transita neste limite, tendo os retratos como marcadores desta realidade/ficção. Os bailarinos posam e vivem no tempo da pose, são como retratos de longa exposição. A performance entra então como um componente aceitável, como um dado deste retrato contemporâneo em que se misturam indistintamente ficção e real. E o encontro de modelo e artista pode ser visto como uma contaminação momentânea de eus, sutil e fugaz.
No início do filme há uma declaração de Pina que diz “dance, dance, se não estaremos perdidos”. Isso é dito pensando no limite do que pode ser traduzido em palavras e captado em imagens e vice-versa. A dança surge como redentora da emoção, do lugar onde o não dito é acessado. È este rastro que Wim Wenders persegue como linguagem estética, operando, como bem coloca Nietzsche entre a vida e a obra, limites que o retrato se presta bem como lugar de discussão, sobretudo no contexto de Pina. Alguns perguntam: Pina é cinema? È teatro? É vídeo de dança? É documentário?O que será? São algumas das questões que esta comunicação pretende discutir e argumentar. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. “O Autor como gesto”. In: Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
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