ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Cartografias imaginadas da América Latina: A narrativa de fronteira |
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Autor | Flávia Silva Neves |
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Resumo Expandido | Com a intensificação nas duas últimas décadas dos fluxos migratórios e da expansão das mídias digitais, tornando-se globalizados, (APPADURAI, 2006), noções como estado-nação, global/local, identidades nacionais, centro/periferia, fronteiras, são colocadas em xeque. Os processos de desterritorialização são deflagrados alterando definitivamente a produção das subjetividades. As fronteiras rígidas que definiam nações se tornaram permeáveis e as identidades cambiantes.
Por outro lado, outras formas de territorialidades e de subjetividades vêm sendo imaginadas e experimentadas, nas materialidades sensíveis das imagens cinematográficas e literárias: uma extensa produção cuja temática contempla, a partir do conceito de fronteira, as experiências do deslocamento, das viagens, do desenraizamento. Essas novas cartografias reconfiguram os mapas de pertencimento e afiliação translocais, propondo, portanto, o realinhamento das fronteiras e desencadeando processos de reidentificação imaginária, bem distintas das identidades nacionais dadas. (FRANÇA, 2003:25-28). Em tempos de globalização, em que tudo se move, se desloca e flui, os limites são substituídos pelos processos desterritorializantes, pelos fluxos de imagens, de informações, de narrativas, que hoje, constituem nossas subjetividades. O imaginário assume um lugar central na criação de mundos, territorialidades e fronteiras. Segundo Appadurai, a autoridade do estado-nação é substituída pela soberania dos mass media e das massas de audiência migrantes, entretanto, “é a imaginação que terá que nos levar para além da nação” (1997: 33). O que é evidenciado pela intensa proliferação de narrativas, que têm reivindicado o domínio capaz de criar nações múltiplas, possibilitando a emergência de vozes dissidentes, de novos rostos e outras formas de visibilidades para personagens estereotipados. Trata-se da invenção de novas etnicidades, territorialidades e fronteiras. A fronteira, palavra polissêmica, conceito em aberto, de limites porosos é a noção que perpassa todos os elementos estéticos e políticos dessas produções. Entendemos que a fronteira, para além de uma linha que separa territórios, gera outros espaços, múltiplos, culturalmente híbridos, lugar de fluxos e misturas entre manifestações tradicionais e modernas, étnicas, lingüísticas e artísticas (FRANÇA, 2003). Essas narrativas estão centradas no caráter itinerante das personagens, que estão em deslocamento, seja em uma viagem, ou quando abrem mão do lugar onde moram ou nasceram e saem em busca de outro lugar, por alguma contingência e por vezes, acompanhados pela solidão. Essas personagens estão à deriva, em trânsito por lugares de passagem, normalmente a bordo de algum veículo, que funciona como parte da mise-en-scène. Em meio a uma diversidade de imagens fronteiriças que povoam as telas cinematográficas e as páginas dos livros mundo a fora, interessa-nos situar e pensar a noção de fronteira no interior da produção cinematográfica e literária latino-americana, sobretudo, as imagens dos espaços fronteiriços, pois entendemos que é neste lugar, onde os fluxos e as misturas culturais se dão de forma mais intensa. Diante da constelação de filmes e livros latino-americanos que compartilham a temática da fronteira, propomos um recorte mais específico, a fim de aprofundar algumas questões pertinentes. Trata-se de pensar, prioritariamente, as narrativas de fronteira, ou seja, as produções que tematizam e se passam nos espaços entre territórios que dividem o Brasil dos outros países do continente sul-americano. Nesse sentido, selecionamos os filmes Os matadores de Beto Brant e Cabeça a prêmio de Marco Rica, e os textos literários, nos quais os filmes foram respectivamente baseados: o conto Matadores (1994) e o romance homônimo (2003), ambos do escritor, roteirista e jornalista Marçal Aquino. As quatro narrativas têm como espaço a mesma zona fronteiriça – Brasil, Paraguai e Bolívia. |
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Bibliografia | AQUINO, Marçal. Cabeça a prêmio. São Paulo.Cosac Naify.2003.
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