ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O ato crítico em Francisco Luiz de Almeida Salles. |
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Autor | FABIO RADDI UCHOA |
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Resumo Expandido | Almeida Salles foi procurador do Estado de S. Paulo, poeta, crítico e gestor de instituições culturais. No início dos anos 1940, participou da revista Clima, compondo a ala de direita, afinada com o movimento integralista. Durante os anos 1950-70, concentrou suas atividades como crítico de cinema de O Estado de São Paulo (1950-62), participando também das diretorias da Filmoteca do MAM, da Cinemateca Brasileira, da Sociedade Amigos do MAM e da Fundação Bienal de S. Paulo. O crítico acompanha, portanto, a intervenção da burguesia paulista no campo da cultura, ocorrido a partir dos anos 1950, e o decorrente aquecimento do mercado das artes.
A partir dos materiais do arquivo de Almeida Salles, atualmente depositado na Cinemateca Brasileira, percebe-se que a sua escrita abrange diversas áreas, incluindo a poesia, a critica de arte e a crítica de cinema propriamente dita. Apesar da diversidade, tais escritos apresentam semelhanças: a sensibilidade e a intuição poética; a experiência estética e cotidiana como ponto de partida para a reflexão; ou ainda, as relações estabelecidas entre arte e vida, unindo o fruir pessoal e a função social, com o estabelecimento de contatos na esfera pública. Neste material pode-se definir a existência de um “ato crítico”, em sintonia com aquele proposto por Antônio Cândido, a respeito dos escritos de Sérgio Milliet. Ou seja, trata-se de “uma disposição de empenhar a personalidade, por meio da inteligência e da sensibilidade, através da interpretação das obras” (CANDIDO, 2006, p.156.) Tal tarefa depende de uma relação intelectual e afetiva, atingindo-se um momento de “revelação”, onde a visão de vida e a visão da obra unem-se. Entre os desdobramentos de tal “ato crítico”, encontramos o biografismo e a atitude apologética, que indicam a sintonia entre crítico e obra analisada. O objetivo desta comunicação é especificar o “ato crítico” de Almeida Salles, a partir do mapeamento de duas modalidades de escritos, concentrados entre os anos 1950-70: a crítica cinematográfica e a crítica de arte. Fazem parte das preocupações: a definição das estratégias do crítico, que se utiliza de um tom apologético particular; e também, a verificação dos desdobramentos sociais de sua escrita que, solene, pereniza os trajetos de obras e pessoas. I. Suas críticas de cinema, publicadas nos anos 1950-60 em O Estado de S. Paulo, exploram as aproximações entre cinema e vida – seja pela defesa de um cinema da transparência, seja pela adesão afetiva ao cinema industrial paulista, tratando suas virtudes e defeitos como traços louváveis, dentro de uma tentativa cosmopolita. Chama atenção, em especial, a cobertura do filmes da Vera Cruz. Diante deles, o crítico realiza uma operação dupla. Por um lado, aponta suas limitações, mas de maneira saudosista, por tratar-se de um cinema com o qual se identifica. Por outro lado, ao tecer elogios, demonstra uma adesão afetiva. É o caso, por exemplo, da fotografia de O cangaceiro, referida por Almeida Salles como “ampla e rasgada, forte e crua como o próprio fato revelado.” Ou ainda, os elogios à atuação de Anselmo Duarte em Tico-Tico no fubá, pela sua fotogenia e plasticidade fisionômica, expressando de maneira admirável “um misto de humilhação, alegria, tristeza e desespero.” II. Enquanto crítico de arte, Almeida Salles escreve apresentações de exposições individuais, realizadas em galerias paulistas ao longo dos anos 1950-70 – entre elas, as galerias Seta, Cosme Velho e Documenta. São biografias de artistas plásticos, feitas por encomenda, a partir de um trabalho que incluía o contato pessoal com os artistas, unindo experiência pessoal/sensitiva e exame técnico das obras. Neste caso, a escrita aproxima-se do mercado das artes, decorrendo de contatos estabelecidos com críticos, artistas, empresários e marchands, tendo por baliza instituições como a Associação dos Amigos do MAM e seu “Barzinho”. |
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Bibliografia | CANDIDO, Antônio. O ato crítico. In. Educação pela Noite. Rio de Janeiro: Ouro e Doce Azul, 2006. p.147-165.
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