ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Entre atropelos e limitações: convergências audiovisuais possíveis |
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Autor | Lia Bahia |
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Resumo Expandido | As teorias sobre o cinema brasileiro se esforçaram por dotá-lo de uma identidade única, distinguindo-o das artes tradicionais, atribuindo-o a uma nova estética, A dificuldade de conectar o cinema com o todo social dominou a historiografia do cinema nacional e fez com que as ambiguidades e contradições fossem apagadas de sua narrativa.
Contudo, o cinema dos primórdios revela como a experiência cinematográfica foi constituída por múltiplos repertórios e influências. André Gaudreault introduz o conceito de intermidialidade ao discorrer “sobre as relações que o cinematógrafo manteve com outras mídias que o acolheram na virada do século XIX” (2009, p. 15). O novo meio não era dotado de pureza; pelo contrário, estava inserido no universo espetacular moderno e se desenvolveu a partir da mediação de repertórios tradicionais e populares, principalmente teatro, circo e literatura. Hibridismo, ambiguidade e circularidade definiram o denominado “primeiro cinema” também no Brasil. Na metade do século XX, com o surgimento de uma multiplicidade de novas tecnologias da imagem e ampliação de mercado de bens culturais, o cinema nacional buscou, mediante estratégias discursivas, se distinguir em relação aos demais meios imagéticos - com destaque para televisão. A segregação e hierarquização cristalizaram, a partir de lugares separados, o espaço audiovisual brasileiro e esta circularidade silenciosa marcou a inserção do mesmo no contexto da expansão do mercado de audiovisual. Contudo, nos anos 2000 parece cada vez mais difícil sustentar esse isolamento midiático. A estratégia da convergência constitui-se como discurso e prática cada vez mais incorporados nas agendas de desenvolvimento do audiovisual no mundo globalizado de economia capitalista. Os anos 2000 apontam para uma transição política e produtiva do campo audiovisual brasileiro que avança em direção da circularidade como recurso estratégico. A tendência de entrecruzamento dos meios audiovisuais no país, principalmente cinema e televisão, se apresenta no cenário contemporâneo como discurso e ferramenta do capital para potencializar e prolongar a sobrevivência das imagens em movimento no mercado local e global. Meios, que até então se encontravam segregados dentro da hierarquia cultural, se misturam e geram novos formatos e processos de produção, distribuição, comercialização, exibição e consumo audiovisual. Como conseqüência há alargamento de fronteiras do culto, popular e massivo do espaço audiovisual contemporâneo. A reorganização do espaço audiovisual brasileiro se move entre atropelos de tendências globais de convergência e limitações de uma formação industrial incompleta. As experiências audiovisuais recentes no país compõem convergências audiovisuais possíveis, que denominamos convergência à brasileira, na qual disputam e interagem elementos locais e globais, arcaicos e modernos, tradicionais e de vanguarda, conformado um projeto singular. O presente trabalho analisa as políticas estatais e privadas recentes que imprimem uma alteração no processo produtivo e de consumo do espaço audiovisual brasileiro. Iniciativas como a criação de um departamento de cinema da TV Globo - Globo Filmes – e as dinâmicas entre cinema e televisão por ele proporcionadas, a entrada gradual de produção audiovisual independente na TV aberta e TV fechada, a transformação no mercado de home vídeo, os recentes marcos regulatórios, os mecanismos de incentivos e lançamentos de editais públicos específicos de entrelaçamento entre os meios revelam uma nova forma de fazer e pensar audiovisual. A tendência de intensificação de convergências de processos produtivos imagéticos no mundo e no país, e de formulações de políticas públicas e privadas de aproximação entre os meios audiovisuais, descortinam limites e potencialidades, desafiam o relativo conforto e antepõem novas questões para realizadores, críticos e pesquisadores - historicamente acostumados a lidar com os meios como formas de expressão isoladas. |
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Bibliografia | BAKHTIN. Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento. São Paulo: Hucitec, 2010.
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