ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Globo Shell Especial e Globo Repórter x censura, nos anos 1970. |
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Autor | Alfredo Dias D Almeida |
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Resumo Expandido | Durante a década de 1970, a TV Globo se consolidou como líder de audiência nacional. Nesse período, cineastas oriundos do Cinema Novo, que comandaram a produção de documentários, primeiro no Globo Shell Especial (1971-1973), depois, no Globo Repórter (1973-1982), levaram ao ar programas abordando temas polêmicos, adotando uma postura crítica em relação à realidade brasileira, ao arrepio da censura interna, imposta pela própria rede de televisão, e da externa, imposta pela ditadura militar. Reconhecemos como fatores também determinantes para tal “liberdade” a situação privilegiada de empresa em relação às demandas do governo militar e o fato de os diretores poderem escolher os temas (em última instância, quem decidia o que ia ao ar era a emissora). Não obstante, concentramos nosso estudo nas condições de produção que permitiram aos cineastas levar a cabo seu intento de discutir os problemas nacionais e nas técnicas utilizadas por eles, tanto em termos formais quanto estéticos, para driblar os censores. O estudo tem por base os depoimentos dos diretores/realizadores dados a pesquisadores, com destaque para os obtidos por Heidy Vargas Silva, durante sua pesquisa de mestrado. Nos três anos do Globo Shell Especial, a interferência da emissora era mínima. Isso pode ser creditado ao fato de o programa não se identificar como “jornalístico” e de ir ao ar após as 22 horas, quando a censura era mais branda. Durante a primeira década de exibição, o Globo Repórter teve apenas três documentários produzidos localmente censurados na íntegra: Conexão Plutônio (sem ficha técnica, 1977); Antonio Conselheiro e a Guerra de Canudos (Carlos Augusto de Oliveira, 1977) e Wilsinho Galiléia (João Batista de Andrade, 1978). Outros tiveram a exibição restrita a algumas praças, como Escola das quarenta mil ruas e A batalha dos transportes de João Batista de Andrade, exibidos somente em São Paulo, e Theodorico, imperador do sertão, de Eduardo Coutinho, exibido em 1978 para todo o país, menos para o Rio Grande do Norte. Alguns documentários estrangeiros exibidos no programa também sofreram restrições: para ir ao ar, certos nomes e palavras proibidas (Lênin, militares, exército) eram cortados da locução. Tanto o Globo Shell Especial quanto o Globo Repórter eram produzidos em película. As condições de produção eram atípicas, se considerados os padrões televisivos. As equipes eram grandes, como no cinema, e o tempo de produção era longo, de até dois meses. Então não havia um prazo rígido de entrega do produto final, motivo pelo qual o Globo Shell Especial era quinzenal. O Globo Repórter semanal contou com três núcleos de produção: o do Rio de Janeiro e o de São Paulo, ambos da Globo, eram formados por cineastas e jornalistas; e o da Blimp Filmes. A Blimp também produziu os programas quinzenais. Em todo o caso, sobressaia a independência em relação ao Jornalismo da emissora. Verificamos que uma das estratégias mais usadas para driblar a censura era priorizar a imagem e o discurso dos personagens em detrimento do texto (locução over). Em documentários de Eduardo Coutinho e de Hermano Penna, por exemplo, o sujeito do discurso era deslocado do narrador (entrevistador ou locutor) para o personagem, que dava sentido e forma à temática desenvolvida. O personagem tornava-se o centro da narrativa. Com isso, as opiniões veiculadas já não podiam ser tomadas como representativas do pensamento da equipe produtora do programa, e muito menos do pensamento da emissora. |
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Bibliografia | ANDRADE, João Batista. O povo fala: um cineasta na área de jornalismo da TV brasileira. São Paulo: Edi-tora Senac, 2002.
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