ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A história do cinema experimental no Brasil e suas distintas origens. |
|
Autor | Rubens Luis Ribeiro Machado Júnior |
|
Resumo Expandido | Antes de Limite (1931), a história do cinema experimental e de vanguarda no país precisa recuar a determinadas considerações. Por exemplo, em São Paulo, a sinfonia da metrópole (1929), Kemeny & Lustig propõem um desvio brasileiro da fórmula vanguardista alemã de Ruttmann, dela se apropriando sem qualquer eco de ruptura, desespero ou libertação. Muito ao contrário, patenteia-se o “desplante” de um entusiasmo edificante, em discurso publicista conservador, coeso ao estilo institucional da cavação. Rebuscado na fotografia, que oscila em derivações de um gosto art-nouveau persistente desde o desabrochar da capital do café, se refundindo num olhar acadêmico classicizante, este premonitório do art déco. O trabalho formativista dessa visualidade de lastro parnasiano possui méritos de criação artística, ainda que acintosamente opostos ao experimentalismo em que se teria inspirado, configurando inopinadamente, na sua fatura formal, uma obra prima em seu gênero. Aqui, a “incapacidade criativa de copiar” capricha a ponto de sugerir algo como a vanguarda da cavação.
Em países como o Brasil, por muito tempo o historiador, o crítico e o cineasta trabalharam com uma escassa experiência direta dos velhos filmes, ao contrário do que nos habitua a atual cinefilia e sua nova acessibilidade técnica. Essa rarefação experiencial, pensada a partir já da perda de cópias, sobretudo a das primeiras décadas, ou seu difícil e controverso acesso até hoje em dia, teria impregnado de modo peculiar a reflexão estética em nossa cinematografia, dotando-a de uma dimensão mítica, a um só tempo riquíssima e viciosa. Do conhecido “Mito Limite”, de Glauber Rocha, em sua Revisão crítica do cinema brasileiro, aos diversos mitos de origem situados ao longo da história do cinema experimental brasileiro, se impõe vigorosa reconsideração do nosso cinema mudo, bem como daquele que entre os anos 1950 e 1970 constituem os parâmetros locais de vanguarda e modernidade. Paralela à inclinação da Nouvelle Vague por Jean Renoir, a escolha de Glauber e de boa parte dos cinemanovistas por Humberto Mauro, em detrimento de Mário Peixoto, irá se inverter depois no discurso de, entre outros, Júlio Bressane. Esse último, em sua crônica-manifesto “O experimental no cinema nacional”, irá mesmo além, no seu itinerário de regresso às origens, embrenhando-se com o major Reis na descoberta sertanista de um frescor sorridente do gentio no fundo das selvas, e recuando ainda mais, às primeiras imagens colhidas em terras brasileiras, ainda do oceano, antes mesmo de pisá-las. A rica espiral imaginária da especulação bressaneana (sobre, afinal, que planos teriam sido estes filmados por Segreto, que se perderam, inaugurantes e augurantes do que o nosso cinema viria a perseguir?) nos leva ao enlevo das ondas, ao sentimento flutuante da chegada ao país pela Baía da Guanabara. Autorizado pelo moderno cancioneiro nacional e a bossa do seu balanço, Bressane conjectura “que estas imagens com a câmera em movimento (travelling) e oscilando, movimento natural do barco, foram um total experimento cinematográfico”, alterando “a apreensão da luz e da paisagem”. O experimentalismo que preside a interação entre forma e realidade filmada, fazendo a 2ª moldar a expressividade sintática da 1ª, está na base das noções de moderno, para além do pressuposto realista (Kracauer, Bazin). O Rio de Janeiro dos filmes de Bressane, mitopoética localista do seu pandaemonium cariocae, não retomaria o regionalismo telúrico de certo modernismo, ou a Mangaratiba e a paisagem recôndita de Peixoto n’O inútil de cada um? Até que ponto é possível desvencilhar do específico espaço vivido um apreciar do cinema de invenção no país, este vínculo substancial do qual a origem se revela questão seminal - sua provável quintessência? Ao se nutrir dum altercar-se com a tradição rastreável, vamos da metafísica irônica da boçalidade colonial, em filmes de Sganzerla, à persistência materialista dos mitos de origem, no cinema de Carlos Adriano. |
|
Bibliografia | Adorno, T.W. Teoria estética. Lisboa: Ed.70, 2008.
|