ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Literacia fílmica e a conservação das imagens |
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Autor | Ana Paula Nunes |
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Resumo Expandido | Ao contrário das previsões pessimistas em relação ao futuro do cinema, o século XXI começou injetando força à luta do campo cinematográfico no Brasil. Houve a criação de diversas medidas de fomento, desde o processo criativo e a produção até a formação, distribuição, exibição e preservação, assim como a elaboração de políticas públicas que favoreçam a convergência entre Cinema e TV. Todos as ações culminaram em um aumento expressivo dos recursos disponíveis para o Cinema e o Audiovisual, no Brasil, saltando de 89,3 milhões (2002) para 265,7 milhões (2010).
No entanto, bens culturais e artísticos são bens simbólicos, isto é, para garantir o acesso democrático a esses bens e a “sobrevivência das imagens”, não basta a recuperação de filmes e salas de cinema ou exibições de filmes onde o mercado cinematográfico não alcança. O grande crescimento dos cursos de Cinema e Audiovisual nas Universidades brasileiras (atualmente temos mais de 40 cursos de cinema) demonstra, especialmente, uma necessidade de capital cultural para experimentar e atuar no mundo. Para além dos estudos acadêmicos, Pierre Bourdieu evidencia que o consumo cultural é uma questão de habitus, um conjunto de disposições inculcadas desde a infância, formando um repertório que organiza um sentido social para determinado grupo, além de formar o gosto estético (2007). No terreno da educação básica, que desempenha o papel de selecionar os bens simbólicos que devemos preservar e reproduzir, cresce a demanda por uma mediação entre o espectador e o filme. E essa mediação não é nova. Como diz Aumont, os cronistas que comentavam as primeiras sessões de cinematógrafo já eram de certo modo mediadores e analistas. Da mesma forma, os críticos de cinema, os curadores e debatedores dos cineclubes. Segundo Aumont: “Um bom crítico […] é também um pedagogo do prazer estético, que se esforça por fazer partilhar a riqueza da obra com o maior público possível”. (2010, p. 13). E é a partir dessa dimensão pedagógica do cinema, que defendemos a importância do desenvolvimento da literacia fílmica, termo usado pelo pesquisador Vítor Reia-Baptista, difundido em Portugal, e que se insere nos estudos e políticas públicas acerca da literacia mediática (media literacy). Grosso modo, o termo se refere a habilidades específicas que permitem a leitura (e a expressão) de diferentes linguagens. A maior referência em media literacy vem do British Film Institute (BFI), que já tem uma longa estrada na área e desenvolve uma série de cursos e materiais pedagógicos para a mídia-educação, além de incentivarem novos públicos a entrarem no mundo dos filmes independentes e filmes de arquivo, pela partilha de conhecimentos, técnicas e abordagens críticas. Em 1989, após duas décadas de trabalho em desenvolvimento curricular no Reino Unido, o BFI propõe um documento intitulado Curriculum Statements, um modelo de media literacy que foi integrado aos planos curriculares em diversos países. O modelo pressupõe que há muitos aspectos importantes e desconhecidos dos diferentes âmbitos dos meios: instituições; categorias; tecnologias; linguagens; representações; e audiência. Esta pesquisa visa descrever a metodologia do BFI para promover a literacia fílmica, através da análise do modelo e os materias pedagógicos, os modos de leitura recomendados e seus desdobramentos em termos de contextos de recepção e crítica. Trata-se de uma forma de “conservação” das imagens cinematográficas em contextos de recepção pedagógica. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A análise do filme. Portugal: Texto e Grafia, 2010
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