ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Falso raccord nas novelas brasileiras |
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Autor | Elianne Ivo Barroso |
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Resumo Expandido | A partir da análise de sequências de novelas da atualidade, apontar, por um lado, certo “descuido” no raccord de posição ou de movimento de personagens entre os planos editados. Por outro, compreender como esta discontinuidade não incomoda nem interfere na compreensão narrativa do público. Há uma mudança na construção das novelas mas que não interfere na sua construção dramatúrgica. Vale lembrar que “fazer raccord é, como o termo indica, fazer com que o corte não seja sentido como uma ruptura definitiva e radical, mas como uma costura, que permite juntar pedaços diferentes com a maior discrição” (AMIEL, 2010, p 26). No passado, a decupagem das novelas seguia com rigor a cartilha da narrativa clássica cinematográfica em que a mudança de plano era executada com precisão de maneira que o telespectador não percebia o corte entre as imagens, causando uma sensação de uma montagem contínua e “transparente” tal qual se fazia na filmografia clássica. Havia, de certo modo, uma “costura” entre os planos e a posição ou movimento de um ator em um contraplano, por exemplo, era repetido e gravado na mesma angulação do plano anterior suavizando a mudança da imagem. Outro exemplo seria a passagem de um master para um plano mais fechado durante uma ação de um personagem. Ao ocorrer a mudança de plano, o ato do personagem estava em continuidade com a imagem anterior. É sabido o uso de duas ou três câmeras em TV ao registrar uma cena. Isto facilitaria o corte em continuidade. Entretanto, hoje em dia, nos deparamos com transições de imagem em que há grande discrepância na posição ou movimento dos atores, evidenciando o que poderia ser considerado erro de continuidade na montagem. Este tipo de corte, no entanto, não causa desconforto para os telespectadores nem tampouco desconcentra a audiência no entendimento da narrativa televisiva. De certo modo, este tipo de edição já foi incorporado pela TV e o público não estranha, não percebe e absorveu tal conduta sem maiores questionamentos. A notar que, embora haja descontinuidade no corte da imagem, permanecem o raccord sonoro e a continuidade de luz entre um plano e outro. Tanto um como outro artifício de pós-produção auxiliam a disfarçar a discontinuidade de imagem. No cinema, o falso raccord foi incorporado com o Neorealismo ou com a Nouvelle Vague. Para a teledramaturgia brasileira, trata-se de uma mudança tardia que, a nosso ver, tem pouca relação com as motivações do cinema dos anos 50. De semelhante, eles tem o não comprometimento na compreensão narrativa. Na teledramaturgia, esta mudança revela sua filiação à edição videográfica e televisiva que se firmaram como descontínua e que elegeram o jump cut como sua principal característica como bem nos mostram os formatos jornalísticos, transmissões ao vivo, videoclips etc. E por fim, o falso raccord na produção ficcional televisiva vem a reboque das novas formas de produção em estúdio e os esforços de pós-produção menos voltada para a montagem das imagens e muito mais concentrada na aplicação dos efeitos visuais. |
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Bibliografia | AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto & Grafia, 2010.
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