ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O neo-noir em Tarantino e Bianchi |
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Autor | Luiza Cristina Lusvarghi |
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Resumo Expandido | O termo neonoir surge na década de 70 para nomear releituras de clássicos noir nas obras de Martin Scorcese (Taxi Driver, 1976), Robert Altman (The Long Goodbye, 1973) e Roman Polanski (Chinatown, 1974). A categoria neonoir na verdade engloba tanto westerns, ficções científicas quanto policiais e thrillers de ação. Trata-se de uma trama policial ou de ação em que a resolução do crime fica relegada a segundo plano, suplantada pelos conflitos sociais. A sociedade é a grande culpada. Outra característica do neonoir contemporâneo é a descontextualização, o comentário a outros filmes. Paródia ou Pastiche? Levando em conta a classificação proposta por Jameson (1995), a partir de Adorno, a maioria dessas produções caberia na definição de pastiche, uma vez que são obras em que estilos e linguagens já esgotados servem como veículo para novas produções, caso de Django Livre (Tarantino, 2012), Sin City (Robert Rodriguez, 2005), Drive (Nicolas Winding Refn, 2011) e a trilogia sueca Millenium (Niels Arden Oplev, 2009).
É justamente esse conceito que transita entre estilo, tendência, gênero (NAREMORE, 1991), que permite ao noir continuar comentando a sociedade contemporânea e suas mazelas e sobreviver à sua formulação original. A categoria foi originalmente proposta por Nino Frank e publicada como artigo na revista de cinema L´Écran Français com o título “Un nouveau genre “policier”: L’aventure criminelle”, no qual, dissertando elogiosamente sobre os filmes, era enunciada pela primeira vez a expressão film noir (FONTES, 2011).. São obras que trazem a nostalgia por um presente definida por Jameson (1996) como uma comodificação da história, por vezes um autêntico simulacro, criando uma realidade paralela, constituindo-se, portanto, num falso realismo. "Quanto o real já não é o que era, a nostalgia assume todo o seu sentido." (Baudrillard, 1991: 14). O neo-noir contemporâneo pode assim expressar o imaginário popular da condição humana no século 21. Na América Latina, na virada do milênio, com a retomada da produção, surgem a partir da literatura, tendências que dialogam com o neo-noir - o neopolicial e o drama negro - Plata Quemada (Marcelo Piñeyro, 2000), O Segredo de seus Olhos (Juan Jose Campanella, 2009), O Invasor (Beto Brant, 2002), Quanto Vale ou é por quilo (Sergio Bianchi, 2005). Em Django Livre, Tarantino mescla história e ficção, reinventando a história em prol da ficção. Em Quanto Vale, a ficção do real representada pelo texto de Machado de Assis é reavivada pelas crônicas extraídas de arquivos de época e servem de pretexto para a mesma reflexão. A estratégia de ambos pode ser considerada distinta, as respostas não são tão diferentes. Não existe possibilidade de cidadania nos acordes da lei, apenas na sua transgressão. Enquanto Django-Fox se torna um assassino pago para resgatar sua dignidade e sua mulher, Candinho, o matador de aluguel, se vê diante do dilema de trair a sua própria causa – de raça e de categoria social - pelo mesmo motivo. Dido, o sequestrador interpretado por Lázaro Ramos, é o verdadeiro herói da classe trabalhadora, dentro de uma democracia em que a única liberdade que existe é a de consumir. Em ambos a história é apenas o pretexto para discutir o cinema e a sociedade. Ao descontextualizar completamente os fatos da história, Bianchi e Tarantino criam simulacros, a partir da realidade, que funcionam como mundos paralelos. Criam sua própria moral e uma relação com o tempo que transcende o real. O objetivo deste artigo é discutir de que forma a história e o tema da escravidão podem servir de suporte para criar esse mundo paralelo a partir de uma comparação entre os filmes Django Livre e Quanto Vale ou é por quilo. As complexidades da definição e da delimitação do fenômeno noir, que acompanham o neo-noir, também serão observadas, levando em conta que o seu critério mais unificador não é o estético, mas o temático ou narrativo. |
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Bibliografia | BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulações. Trad. Maria João da Costa Ferreira. Lisboa, Portugal: Editora Relógio D´água, 1991.
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