ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Mr. Spock: um novo significado para a Fronteira. |
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Autor | Jean Raphael Zimmermann Houllou |
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Resumo Expandido | Kapell (2010, e-book) associa Star Trek ao mito americano da fronteira em eterna expansão o qual prega que o desenvolvimento da cultura estadunidense necessita de um continuo alargamento das suas fronteiras para uma terra livre. Com o intuito de apresentar o mito da fronteira, Kapell (2010, e-book) cita o show de Buffalo Bill Cody. Nesse espetáculo era contextualizada a conquista do oeste sendo que as terras indígenas, terras livres, aparecem como locais a serem “domesticados” pela civilização estadunidense. Para Kapell, as partes desconhecidas da galáxia em Star Trek seriam as terras livres que possibilitariam o contínuo desenvolvimento conforme pregado no mito.
Alice George (2013, e-book), por sua vez, associa Star Trek aos filmes de velho oeste cujas narrativas remetem-se fortemente ao mito da fronteira. George (2013, e-book) compara o personagem James T. Kirk, capitão da nave, a um herói da fronteira. Segundo Fernando Vugman (2010, p. 97), o cowboy exemplifica o herói fronteiriço americano. Tal figura dramática se apresenta como dividida entra a natureza selvagem da terra livre, dentro da qual está adaptada aos modos de sobrevivência, e a civilização da qual é um agente de crescimento, ao mesmo tempo em que não consegue se fixar nela. Nesse sentido, George (2013, e-book) entende que Kirk, ao cumprir sua missão de descobrir novas civilizações estaria, a exemplo do cowboy, absorvendo os conhecimentos selvagens necessários a sobrevivência em novas terras. No entanto, a autora afirma que um ponto diferenciador de Kirk para com outros heróis do velho oeste é o fato de ele ser mais próximo a sua civilização. Além disso, Kirk não viaja sozinho, mas acompanhado por toda a tripulação da nave que é quase completamente formada por humanos iguais a ele. Tais fatos o distinguem do cowboy deslocado de sua própria civilização. Mr. Spock, por outro lado, apresenta o típico deslocamento do herói de fronteira. Ele é humano por parte de mãe e vulcano por parte de pai. Essas duas origens fazem com que ele sempre esteja dividido entre as duas culturas sem se sentir pertencente a nenhuma delas. Em Jorney to Babel (temporada 2, episódio 10), são apresentados os pais de Spock, Sarek e a Amanda. Uma fala de sua mãe explicita a dificuldade de Spock em adequar-se a civilização vulcana dentro da qual foi educado. Vejamos suas palavras: “It hasn´t been easy to Spock, neither human, no vulcan. A home nowhere except star fleet.” Como podemos observar, Spock é descrito como alguém deslocado que não consegue se sentir pertencente a nenhuma das duas culturas e cujo único lar está nas expedições da frota estelar. Dessa forma, consideramos que Mr. Spock deve ser interpretado como um herói de fronteira, deslocado de sua civilização e ao mesmo tempo fundamental para a manutenção e propagação de mesma. No entanto, devemos nos perguntar qual entre a sociedade huamana e a vulcana deva ser considerada a mais avançada e qual a mais selvagem? Várias passagens do seriado apresentam as vantagens da cultura vulcana em relação à humana. Os vulcanos são mais lógicos e menos instintivos, características associadas à ideia de desenvolvimento civilizatório. Além disso, eles são avessos aos sentimentos e a impulsão o que os torna mais pacíficos. Essas características vulcanas não são inatas, mas foram conquistadas por eles ao longo de um processo histórico. Sendo assim, Spock seria um agente civilizador externo capaz de ajudar os humanos a evoluírem. Ao considerarmos o contexto da Guerra Fria dentro do qual pela primeira vez a humanidade percebia ser capaz de destruir o planeta através de uma guerra podemos compreender a procura por uma civilização mais avançada que apresentasse um maior pacifismo. Dessa forma, ao invés do seriado propor uma simples propagação da cultura estadunidense para os confins da galáxia conforme explicitado no mito, ele trata de questionar a pertinência da mesma. |
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Bibliografia | SCHORER, Mark. Myth and Mythmaking. Daedalus vol. 88, no. 2, (Spring, 1959), pp. 359-362. Published by: The MIT Press.
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