ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A Invenção do Cangaço |
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Autor | Marcelo Dídimo Souza Vieira |
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Resumo Expandido | No Brasil, o cangaço começou a ser retratado no cinema, ainda de forma tímida, na década de 1920 com o Ciclo do Recife e foi imortalizado pela câmera de Benjamin Abrahão na década seguinte. No entanto, foi somente na metade do século que o cangaço se tornou um gênero cinematográfico com O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953), filme que “inaugura o ciclo e delineia os principais traços que ficarão caracterizando o cangaceiro no cinema comercial. A violência, o cavalo, os grandes descampados e a falta de tradição cinematográfica no Brasil: mais nada era preciso para transformar em filial do western norte-americano o filme de cangaceiro” (BERNARDET, 1977: 46-47). Portanto, para falar sobre a invenção do cangaço, é preciso investigar suas raízes na criação do western.
“De Jamestown em 1607 até o Novo México e Arizona em 1902, 300 anos de história da nação relatou o movimento da conquista do oeste e seu desenvolvimento” (COYNE, 1997: 2), que se tornou mais evidente entre os anos 1840 e 1890. Portanto, quando o período conhecido como a conquista do Oeste estava chegando ao fim, o Cangaço estava apenas começando (1870 – 1940). Nessa intersecção temporal, estava apenas começando, também, um fenômeno mundial, o cinema, a arte que transformou essas histórias em gêneros cinematográficos. A história da conquista do oeste é bem diferente da história do cangaço. Esses movimentos aconteceram em épocas distintas, quando ambos os países passavam por uma situação econômica e social bem particular. Um fator comum é é a figura do bandido social, o fora-da-lei que se rebela contra o sistema vigente e procura fazer justiça com as próprias mãos. E daí, surgiu o ponto central desse conflito, a dicotomia civilização x selvageria, que foi levada ao cinema e se tornou o fator predominante em ambos os gêneros. Enquanto o oeste estava sendo conquistado, a literatura estava transformando seus personagens em lendas e criando mitos nos romances de James Fenimore Cooper’s (1823-41), nas histórias de Robert Ohmann, no pioneirismo de Owen Wiester (The Virginian, 1902); e nas milhares de Dime Novels editadas durante décadas, uma literature popular de baixo custo. Assim como as Dime Novels, o Brasil também possui uma literatura popular, o Cordel, bastante difundida no Nordeste e que tem no Cangaço uma de suas principais fontes de inspiração. Na literatura, Franklyn Távora publicou O Cabeleira em 1876 e em 1902 Euclides da Cunha revelou Os Sertões para o Brasil. A literatura consolidou a figura do cowboy no gênero americano e foi transposta para o cinema com as lendas e mitos já criados e apreciados pelos leitores. No Brasil, mais que a própria literatura, o cangaço se apropriou de aspectos do western para reinventar suas próprias aventuras, obviamente buscando nas histórias do sertão uma forma de fazer essa transposição sem perder a ligação com a tradição histórica do Brasil. Apesar de cada gênero ter sido inventado de forma diferente, existe um ponto em comum, um divisor de águas: Stagecoach (John Ford, 1939) para o gênero americano; O Cangaceiro para o brasileiro. Até o final da década de 40, a produção de westerns era dominada pelo Horse Opera e pelos filmes B. Stagecoach elevou o status do gênero, influenciando os filmes a partir de então e deixando sua contribuição para o cinema mundial, inclusive o Brasil. Produzido pela Vera Cruz, O Cangaceiro recebeu fortes influências do western, principalmente de Stagecoach, e criou o gênero brasileiro, incentivando a produção que veio a seguir. As influências do western sobre o cangaço aproximaram os gêneros, o que fez com que suas histórias tivessem percursos parecidos na cinematografia de cada país: o diálogo com a comedia, a autoria, a crise na década de 1980 e o renascimento na década de 1990. Western e cangaço são gêneros próximos com histórias parecidas e uma pergunta em comum: o que virá depois?! |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: British Film Institute, 1999.
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