ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O CINEMA DOCUMENTAL POÉTICO E PERFORMÁTICO: IMBRIC(AÇÕES) DANÇANTES |
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Autor | Cristiane do Rocio Wosniak |
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Resumo Expandido | Pina (2011), um documentário poético e performático, que se utiliza da tecnologia em 3D e consiste numa homenagem de Wim Wenders à sua conterrânea, a artista da dança Pina Bausch, falecida em 2009, é o objeto empírico dessa investigação. Trata-se de um texto híbrido, contemporâneo e palimpsêstico, ou seja, uma forma de comunicação estética que se estrutura por parataxe, própria dos discursos não verbais. Para Raymond Bellour (1990), a hibridação seria a mistura de meios e de formas de representações ou linguagens. Refiro-me ao documentário em questão, como uma ‘signagem’, como um sistema de signos, parafraseando o poeta e semioticista Décio Pignarari (2004), que concebe este neologismo para evitar usar o termo linguagem ao se referir a textos não verbais. Pina, sendo uma signagem híbrida, cuja voz é corporificada pelas ações dançantes, afirma e nega o real ao mesmo tempo, numa espécie de face especular ou bifacial, fazendo colidir os elementos de (re)apresentação, complexificando-se, na medida em que se complexificam os meios e os intertextos que agregam significados à sua constituição existencial. E o que o termo palimpsesto agrega ao objeto empírico da investigação? O palimpsesto é uma espécie de pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, mas que não a esconde de fato, sendo possível ler, em camadas sobrepostas e transparentes, ambos os textos: o antigo e o(s) novo(s), sucessivamente ou superpostamente. Na obra de Genette – Palimpsestes: la littérature au sécond degré (1982) – o palimpsesto é a metáfora utilizada pelo autor, ao cotejar o termo hipertextualidade, o qual atribuo ao texto documental Pina.
Ao propor um alargamento de fronteiras e uma hibridação de signagens, o documentário contemporâneo, de acordo com Ramos (2008), amplia o repertório deste fazer comunicacional, informacional e artístico pela introdução de um signo novo: uma nova relação entre a dança e a (re)apresentação de sua própria imagem, capturada pelo ‘olho da câmera’ wenderiana. A dança e o cinema dialogam e se entretecem na configuração de uma nova maneira de perceber o corpo, a imagem e o movimento em si. Nesta instância de relacionamento corpo/movimento mediado, amplia-se o campo de possibilidades experimentais cinematográficas. A dança que paira no medium cinematográfico, corporaliza as diferentes ‘vozes’ documentais em Pina, que se narram a partir do conceito de voz proposto pelo teórico Bill Nichols (2012). Tais narrativas expõem o corpo, na tela, em movimentos fragmentados e não-linearizados. Esse corpo e(m) movimentos ressignificados acabam por instituir um novo estatuto, um entre-lugar em que o fazer dança e cinema, não podem mais ser pensados de forma arbitrária e em separado, mas como um processo de (re)criação conjunta. Proponho a inter(trans)textualidade do fenômeno híbrido e paratático que ocorre em meu corpus específico, utilizando-a como designação ou (trans)formação de diferentes signagens ou sistemas de signos em um outro sistema. Na transposição de um texto ou de vozes hipotextuais (preexistentes) em outro texto hipertextualizado – Pina – ocorre o trânsito, o movimento semiósico incessante da passagem de um sistema significante a um outro, e, nesse movimento dinâmico de análise, pressupõe-se novas articulações de sentido, visto que a partir da heterogeneidade no(do) processo de criação textual, a subjetividade torna-se a tônica maior deste fenômeno contemporâneo. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. L’entre-images: photo, cinema, vídeo. Paris: La Differénce, 1990.
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