ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Cinema, arte e desterritorializações |
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Autor | Eduardo Antonio de Jesus |
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Resumo Expandido | As práticas artísticas que se situam entre o cinema e a galeria, ou seja entre o domínio da imagem em movimento e o ambiente da arte, crescem e se expandem cada vez mais. Ao longo do tempo são inúmeras as passagens que nos conduziram ao cenário que experimentamos hoje em dia.
São múltiplas as possibilidades de expansão da imagem em movimento no espaço expositivo. Historicamente podemos pensar que desde as radicais experiências de Hélio Oiticica e Neville D´Almeida com a “Cosmococa – Programa in Progress” da década de 1970 até os arranjos atuais são criadas instigantes situações intermediárias entre a “caixa preta” mais típica do cinema e o cubo branco das galerias e museus. Longe de uma situação mais estanque entre os dois extremos, nos interessam aquelas obras que se deslocam entre os dois espaços articulando novas espacialidades e modos de fruição. Boris Groys afirma que as instalações, sejam elas ligadas ou não ao domínio da imagem em movimento, "transformam o neutro e vazio espaço público vazio em uma obra de arte individual – que convida o visitante a experimentar este espaço de forma holística, totalizando o espaço de uma obra de arte"(GROYS, p.02, 2009). Apesar da densidade e força do pensamento de Groys em relação as espacialidades construídas pelas instalações, percebemos, em outra direção, um verdadeiro campo de tensão entre os modos como se relacionam os blocos espaço-temporais das instalações e as relações com as espacialidades mais típicas do cinema ou da galeria. Acreditamos que as instalações, especialmente aquelas ligadas a imagem em movimento, promovem uma desterritorialização no espaço expositivo ampliando os processos de significação, reconfigurando os espaços e abrindo produtivas e potentes lacunas entre as especificidades típicas do espaço expositivo e do cinema, gerando um outro território. O ambiente da “caixa preta” do cinema ou a “situação cinema” como apontou Hugo Mauerhofer, ainda que de forma mais fechada, dá sinais da potência do dispositivo cinematográfico – entendo-o, mesmo que também de forma mais fechada, como a sala escura onde todos estão sentados somado ao próprio aparato de exibição visual e sonora – para nos deixar imersos e captar nossa atenção. Apesar das limitações do pensamento de Mauerhofer, a noção “situação cinema” pode nos ajudar a caracterizar um certo modo dominante de exibição cinematográfica que atualmente, de forma hibrida e dinâmica, dialoga com outras formas de exibição e torna-se ponto de partida para potentes desterritorializações do espaço expositivo. Nesse contexto nos interessa verificar, derivando de reflexões anteriores, o modo como essas desterritorializações ocorrem na abertura para novas relações espaciais no ambiente expositivo. Para tanto vamos novamente focar, entre outros, em “Ten Thousand Waves” (2010) de Isaac Julien, instalação que ocupa o espaço expositivo com nove telas e gera uma desterritorialização (movida por um devir-animal) em um arranjo intermediário que oscila entre cinema e galeria reforçando um “devir-espaço” (Derrida, 1991) já que a obra efetiva-se pela experiência no espaço. Notas: (1) tradução nossa de: transforms the empty, neutral, public space into an individual artwork—and it invites the visitor to experience this space as the holistic, totalizing space of an artwork. |
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Bibliografia | DERRIDA, Jacques. Margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991.
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