ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | CCTV Horrors: do voyeurismo à vigilância na era da mídia digital |
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Autor | Klaus Berg Nippes Bragança |
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Resumo Expandido | “Vives y morirás en esta prisión, para que un hombre que yo sé te mire un número determinado de veces y no te olvide y ponga tu figura y tu símbolo en un poema, que tiene su preciso lugar en la trama del universo. Padeces cautivo, pero habrás dado una palabra al poema”.
Jorge Luis Borges, Inferno, I, 32 Após os atentados de 11 de setembro, um novo imaginário sobre as catástrofes imprevisíveis alertou o mundo e o cinema não só para o caráter espetacular que as tragédias reais poderiam assumir, mas também para a crescente atmosfera de desconfiança e paranoia que respaldava as práticas de vigilância e controle sobre o privado, usadas por governos ocidentais em retaliação aos suspeitos de terrorismo. O medo que espreita a indeterminação e a imprevisibilidade de uma ameaça mantém a sociedade em um constante estado de alerta contra o outro, pois, como nos lembra Bauman (2008, p.59), “a morte é agora uma presença permanente, invisível, mas vigilante e estritamente vigiada, em cada realização humana, profundamente sentida 24 horas por dia, sete dias por semana”. A guerra ao terror foi travada através de avanços da tecnologia da informação e da segurança, tanto no âmbito bélico, quanto no de vídeo-vigilância. Com o advento das tecnologias digitais de vídeo, a presença de câmeras regulando o cotidiano aumentou vertiginosamente, o que concedeu à imagem dos circuitos restritos de televisão, ou CCTV (closed circuit television), uma circulação mediática mais ampla e sua subsequente legitimação sobre a realidade. Filmes como Look (Adam Rifkin, USA, 2007) reatualizam a figura do Grande Irmão, cunhada por George Orwell nas páginas de 1984, ao destacar a individualidade na multidão. Nesse caso, a proliferação das câmeras de vigilância é um modo de controle da conduta social dos indivíduos nas cidades. Se os dispositivos audiovisuais espalhados nas ruas ameaçam a individualidade para garantir a segurança pública, outros títulos como O olho que tudo vê (My little eye, Marc Evans, UK/USA/FRA/CAN, 2002), demonstram que os sistemas de vigilância domésticos são ainda mais ameaçadores, pois adentram o patamar da intimidade privada, embora preservem ainda o mesmo pretexto: a vigilância e o controle das pessoas contra as incertezas do mundo exterior. A partir da Web 2.0 e a disseminação da cultura participativa, a imagem de vigilância ganha novas possibilidades ao redistribuir os poderes de produção, circulação e recepção para as mãos de agentes que, situados fora de órgãos estatais e da mídia de massa, até então eram objetos da vigilância: o cidadão comum. Um tipo de amador que dispõe da possibilidade tecnológica, além de uma motivação exibicionista e voyeurista, para registrar sua realidade e a das pessoas que lhe interessam. Algumas obras refletem este empoderamento do amador, ao passo que resgatam antigas fobias conservadoras, receosas com os riscos que a tecnologia poderia assumir ao ser popularizada para as massas. Alone with her (Eric Nicholas, USA, 2006), por exemplo, atravessa o interesse voyeurístico da paixão, até o controle obsessivo da vida íntima de uma jovem por meio da CCTV. Já Megan is missing (Michael Goi, USA, 2011) julga os perigos dos jovens se relacionarem com desconhecidos através de webcams em redes sociais. 388 Arletta Avenue (Randall Cole, CAN, 2011) amplia mais tais medos ao empregar os dispositivos digitais de registro e vigilância como armas que um psicopata usa para atormentar a privacidade de suas vítimas. Seguindo algumas orientações sobre a cultura participativa (JENKINS, 2009; BURGESS e GREEN, 2009), questões despontadas com as novas tecnologias de vigilância e CCTV (KAMMERER, 2004; STEWART, 2012), e os estudos de cinema sobre o horror (HELLER-NICHOLAS, 2011; CHERRY, 2009; TZIALLAS, 2010), este trabalho pretende refletir sobre as implicações narrativas, estéticas e afetivas que o vídeo de vigilância trouxe para o cinema de horror, ao ancorar sua materialidade fílmica em um artifício de registro amador. |
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Bibliografia | BAUMAN, Z. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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