ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Os “documentários musicais” brasileiros: uma análise de Nelson Freire. |
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Autor | GUILHERME GUSTAV STOLZEL AMARAL |
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Resumo Expandido | Nos relatos históricos sobre as primeiras experiências cinematográficas realizadas no país, já é possível notar que a música é, de certa forma, um elemento primordial. A pesquisadora Marcia Carvalho (2009), por exemplo, localiza no cinema silencioso o princípio dessa relação, período no qual eram realizados os filmes cantantes, caracterizados pela presença de cantores que, posicionados atrás da tela, acompanhavam as imagens de revistas musicais e operetas filmadas. Tal fato nos indica que a relação da música com o cinema nas produções brasileiras é vasta e diversificada.
Nosso interesse reside especificamente em documentários que tem a música como tema, como é o caso de Bethânia bem de perto (Eduardo Escorel e Júlio Bressane, 1966) e Nelson Cavaquinho (Leon Hirszman, 1969), possivelmente os precursores do que vem sendo chamado atualmente de “documentário musical”. Até os anos 90, os documentários sobre música eram predominantemente de curta e média metragem. Nesta mesma década a cinematografia brasileira ganhou fôlego e,consequentemente, a produção de documentários de longa-metragem com temática musical aumentou. Nos anos 2000 este tipo de filme invade os festivais e as salas comerciais do país, alcançando números expressivos de espectadores. Os filmes que compõem esse grupo recente partilham de algumas características temáticas e estruturais. A MPB, sobretudo a Bossa Nova, a Tropicália e o Samba, predomina na temática desses filmes e a abordagem mais comum é a histórico/biográfica, onde o foco de interesse volta-se para a carreira de um músico, a trajetória de uma banda ou a história de um movimento musical. O formato tem chamado a atenção de diversos pesquisadores e tem sido tema de artigos acadêmicos, dissertações e teses. Várias pesquisas destacam que estes documentários tendem a estruturar esta perspectiva histórico/biográfica segundo uma formulação costumeira que intercala diversos materiais de arquivo, entrevistas, depoimentos e performances. A montagem desses materiais segue, muitas vezes, uma ordem cronológica que articula a vida e a obra do(s) biografado(s). Porém, alguns documentários musicais destacam-se no cenário brasileiro justamente por escaparem de tal formulação, como é o caso de Nelson Freire (2003). Dirigido por João Moreira Salles, o documentário apresenta 32 episódios onde se vê, sobretudo, a relação do pianista Nelson Freire com a sua música, que não é MPB mas sim peças eruditas, principalmente do século XIX. A perspectiva histórico/biográfica encontra seu espaço no filme, porém sem a intenção de reconstruir a trajetória da carreira do pianista. As informações biográficas presentes em Nelson Freire auxiliam o espectador a compreender como se desenvolveu a relação entre o pianista e a música. Enquanto grande parte dos documentários musicais brasileiros parece privilegiar a palavra falada como suporte da memória, que ganha forma, sobretudo, por meio de depoimentos e entrevistas, Salles encontra justamente na música o elo de contato entre filme e espectador. O depoimento está presente em Nelson Freire, mas nesse caso é o próprio pianista que “fala” sobre a importância das pessoas que marcaram a sua vida e fizeram com que o menino prodígio se tornasse o pianista reconhecido internacionalmente. Nossa análise destacará os principais aspectos temáticos e estruturais do filme no intuito de investigar as estratégias que o diferenciam e o singularizam diante das práticas consideradas recorrentes em boa parte dos documentários sobre música. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo, São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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