ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A. Cavalcanti: traços da vanguarda nos documentários do GPO |
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Autor | Virginia Osorio Flores |
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Resumo Expandido | Introdução
Na época em que Alberto Cavalcanti, como cenógrafo, inicia seu trabalho em cinema, o som ainda não era possível como elemento de manipulação junto às imagens. No entanto, acreditamos que é em seu contato com as práticas estéticas do avant-garde vigentes na Europa de então, que a visão estrutural desenvolvida por Cavalcanti na construção dos seus projetos se fortaleceu. Avant-garde e influências Depois de uma passagem pela Inglaterra, Cavalcanti volta à França para trabalhar no cinema, e nunca mais o deixou. De 1922 a 1925 participou de sete películas, principalmente como cenógrafo, algumas também como assistente de direção e, em 1926, dirige seu primeiro filme, Le Train sans yeux, que foi lançado após o filme seguinte, Rien que les heures, reconhecido como obra prima do cinema da avant-garde francesa. Além de seus trabalhos nos filmes, Cavalcanti era um verdadeiro militante do cinema de vanguarda. Já em 1925 declara em Les Cahiers Du Mois sua crítica ao melodrama cinematográfico com raízes na literatura e à indústria em detrimento da poesia. Som sincrônico Os primeiros filmes sonoros utilizaram o novo recurso para dar maior credibilidade à imagem visual. Assim, “o advento do cinema sonoro constituiu um passo decisivo no refinamento do sistema voltado para o ilusionismo e a identificação.” (XAVIER, 2005, p.35) O som era pensado e usado como um “atributo” da imagem visual. Tornar audível o que já está sendo visto é uma forma de torná-lo convincente. O som veio colaborar com o desejo de verossimilhança na estética do discurso transparente, na apresentação de uma imagem como se fosse independente, sem causa, de um produto sem produtor. (FLÔRES, 2013, p.35) Som complementar Em entrevista a Allistair Cook , em 1935, Cavalcanti declara que o filme sonoro passou do primeiro estágio, o som sincronizado, ao som complementar. Para Cavalcanti o poder da imagem está na capacidade de afirmação literal das coisas mostradas, enquanto o som possui uma potência de sugestão, justamente por lhe faltar uma imagem imediata das coisas. Essa diferença entre ver e ouvir são, para ele, responsáveis pelo caráter sugestivo e emocional que os sons são capazes de oferecer ao espectador. Depois de atuar como diretor contratado da Paramount Pictures (1930-31), Cavalcanti passa a dominar a técnica da gravação sonora e em 1934 começa a atuar como supervisor de som no GPO – Film Unit, coordenando as atividades entre captação, música composta e edição de som. O exercício do trabalho de Cavalcanti com o som neste período, foi feito de forma pioneira, tanto no que diz respeito ao modus operandis desse trabalho, como na questão da criatividade e no emprego de elementos sonoros privilegiando a construção de uma forma poética, em oposição à forma de uma correspondência sincrônica com os elementos visuais. A formação de Cavalcanti dentro da vanguarda francesa, leva-o a ter uma postura de liberdade em relação à questão do som sincrônico (relação temporal coincidente entre imagem visual mostrada e som escutado em uma obra), como mencionado em entrevista dada a Allistair Cook. Esse posicionamento não era sem propósito ou escolhido por facilitar o trabalho com várias camadas de som. Ele desenvolve essa tendência, inclusive mantendo-a durante sua vida profissional, como um parti pris estético que alcança o imaginário do espectador por provocar incertezas significativas (CAVALCANTI, 1985). As marcas da vanguarda, no trabalho de Cavalcanti durante o GPO, podem ser encontradas no que ele mesmo chamou de “movimento de rebeldia contra o uso indiscriminado da música, contra a obrigatoriedade do sincronismo da palavra e dos ruídos, dando início à criação do simbolismo sonoro”. (CAVALCANTI, 1976, p.207). |
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Bibliografia | CALDIERI, Sergio. Alberto Cavalcanti, o cineasta do mundo. Rio de Janeiro: Editora teatral Ltda.
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